Crônicas, contos e narrativas do passado, de gente que vive na ilha do Pico, ou estão espalhadas pelo mundo e tem muitas estórias para contar. Mande seu conto.

domingo, 6 de dezembro de 2009

A Ilha Maior

Há um ditado que diz "palavras leva-as o vento". Melhor que palavras, a escrita. Mas não há nada que supere as imagens. Neste clip feito, sem nenhuma pretensão artística, e apenas só, com a finalidade de reunir fotos de nossa Ilha Maior, sob o tema musical de Carmina Burana, aqui orquestrada pelo magnífico conjunto "ERA", levo aos nossos leitores as faces daquela, que é a maior montanha de Portugal, com 2. 351 metros, se elevando do mar. A maior de mundo em elevação, a pique, acima do nível do mar.



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sexta-feira, 23 de outubro de 2009

RELATO DE UMA CAÇADA Á BALEIA . HÁ SEMPRE UMA PRIMEIRA VEZ!





Autor: Francisco Medeiros
Depois de terminar a II Guerra Mundial, em 1945, as actividades do porto da Horta foram diminuindo, e em consequência diminuindo a procura de mão obra.
O comercio Faialense, ficou quase paralisado em consequência da falta de trabalho na classe operária. As obras públicas , mantiveram-se quase inalteráveis, na admissão de trabalhadores, mas passaram a admitir os mais qualificados. Com a saída da base naval Inglesa e a retirada do serviço de barragem do Comando de Defesa Marítima do Porto da Horta, fecharam muitos estabelecimentos comerciais.
A vitalização do Porto da Horta.
No final da década de 40 e anos 50 até à machadada do Vulcão do Capelinhos em 1957 do século passado, era difícil conseguir trabalho. Os jovens desempregados que não tinham qualquer qualificação atiravam-se a tudo o que aparecia. Os que possuíam cédula marítima, trabalhavam no fornecimento de carvão a navios, ou na estiva de cargas e descargas de mercadorias, nas pescas ou na caça à baleia.
Na caça à baleia era difícil conseguir um lugar, para quem não era filho nem parente de baleeiro, porque as companhias estavam completas embora só estivessem matriculados, o oficial e o trancador. Na época baixa, que ia de Outubro a Maio, os baleeiros abandonavam tudo, para ir à baleia, mas com a falta de trabalho os patrões e encarregados não eram muito atreitos a dispensá-los para irem à baleia, razão porque muitos para manter o trabalho, ouviam o estralejar do foguete dar sinal de baleia, mas ficavam-se pelo trabalho, pois o dinheiro fazia falta. Ia à baleia quem chegava primeiro e se agarrava à bancada do bote.
O Andrade ainda jovem, residente ali para o lados das Angústias, redondezas de Porto Pim, era daqueles que faltava à escola, quando aparecia baleia, para ver as canoas saírem de Porto Pim, em autenticas regatas a remos, ou à vela, se o vento estava de feição. A rapaziada tomava partido por este ou aquele oficial, para ver quem chegaria primeiro à saída da ponta Oeste do Monte de Guia, por entre esta e a Pedra Alagada, como se dum desporto se tratasse. Depois dali, lá seguia com outros, até à vigia subindo o Atalho de Bacalhau, para no Cabeço das Garças, onde se situava a vigia, que fica a oeste da Ermida da Senhora da Guia, ver a actividade baleeira. Auxiliavam, o vigia a fazer fumos ou a manejar o pano de sinais, sempre na esperança que aquele cedesse por curtos momentos o binóculo para vigiarem as baleias, como compensação da ajuda prestada.
Já moço com cédula marítima, e com 16 anos, era daqueles que como outros deitava a mão a todo o trabalho que aparecia, mas quando não havia que fazer, quando ouvia o sinal de baleia corria para o areal de Porto Pim, ajudava a arrear os botes, na esperança de algum dia na faltar de qualquer tripulante poder concretizar um sonho que há muito o acompanhava.
A mãe, que sabia da sua vontade, já tinha manifestado o seu desagrado por saber o perigo que o filho corria, mesmo assim s
em nada lhe dizer preparava-lhe alguma comida que ficava de véspera junto a uma bolsa de retalhos. O pai, homem do mar e descendente de uma família de pescadores, não se importava e, já tinha trocado algumas palavras com um seu vizinho baleeiro, acerca da ida do filho à baleia.
O Andrade metia a c
omida na bolsa, que escondida debaixo da soera ou da froca, não fossem os outros ver e depois rirem-se dele, por não ter conseguido lugar.
Chegou o
dia, ainda a última bomba do foguete não tinha rebentado e já ele saia porta fora, a caminho de Porto Pim. Foi dos primeiros a chegar e, teve conhecimento de que estava um navio na baia da Horta à descarga, por isso, era possível conseguir um lugar.
O Andrade chegou-se para o bote, N. S. das Angústias, da Companhia Baleeira Faialense, de que era oficial o mestre António Ferreira mais conhecido pela alcunha Caneca, que tinha como trancador o José Cardoso Pinheiro, seu vizinho, a quem já manifestara vontade de ir à baleia.
Ajudou a recolher o pano
que estava a enxugar e, a preparar o bote para arrear até chegarem os outros reparando que faltava um tripulante.
Agarrou-s
e a um dos bancos e ajudou a arrear o bote até à beira d’água. e viu aproximar-se o tripulante faltoso e este entrar para o bote mas também ouviu a vós do oficial dizer:
- Ó B...salta p’ra fora !

E ouviu o Mestre António dizer-lhe:
- É rapaz salta, vem
aqui p’ró o remo da boga .(voga- remo que fica junto ao oficial a contar da popa).
O seu contentamento não tinha explicação. Já conhecia os nomes de todas as peças fixas e moveis de um bote baleeiro, por frequentar a casa dos botes, de forma que foi fácil a sua adaptação.
Era um ca
rdume da baleias fora da Feteira que tinha sido avistado do Monte da Guia. O vento era fraco não dava de vela, de forma que, foram remando até quase fora da Feteira, as baleias foram sempre a caminho do Oeste. Ali a lancha que tinha recebido sinal do vigia pegou no bote. Passaram Morro de Castelo Branco e já fora dos Capelinhos, as baleias foram avistadas da lancha.
Largaram a lancha
que se afastou para ira rebocar outros botes e como o vento tinha aumentado como o Sol p’ra cima, fizeram de vela e lá foram pelo mar fora até que o cardume foi avistado. As baleias tinham saído, pegaram nas pás para dar mais velocidade ao bote. Cabe aqui referir que o José Cardoso, com o seu entusiasmo e homem forte como era, a água da sua pá quase que varria as dos outros.
- Padeja duro, dizia mestre António !
As baleias meteram-se novamente, pois estavam ainda distantes. Pararam de padejar. O vento era bom
. Foram andando p’ra fora.
É uma sensação fantástica andar à vela num bote baleeiro ouve-se o marulhar à proa o resto é só silêncio. Com a velocidade do bote, vê-se por vezes o mar subir na borda do lado de sotavento às vezes mais de um palmo, sem entrar um pingo de água.
Dali a pouco diz o mestre António:
- Ó rapazes, cada cabelo um olho, as baleias estão a sair !
Dali a pouco
, as baleias saíram mesmo pertinho, o bote arribou direito a elas, e diz o mestre António:
- Peguem nas pás, não quero que toquem no bote, nem ouvir barulho nenhum
, muita atenção quando eu mandar arrear o pano.
O José Cardos
o em pé à proa prepara o arpão. Vão se aproximando, rapidamente, o cardume era de sete baleias, o bote tinha entrado por trás e pelo meio delas.
- Arria o pano,
diz mestre António.
Uma das baleias tinha sido trancada.
Ouve-se mestre António dizer:

- Água na linha.
Apanharam o pano, e prepararam-se para arrear o mastro, logo
de seguida.

A baleia foi por aquele mar abaixo levou mais de uma celha de linha.
- A Baleia está p’rá terra, aqui direita ao Faial, diz e o José Cardoso.
- Vocês armem os remos todos.
Foram rema
ndo, remando sem puxar a linha e, o José Cardoso preparou-se com a lança.
A baleia saiu bem perto do bote, não aparecia mais baleia nenhuma. Levou duas lançadas e começou a bufar sangue grosso. O bote foi mais adiante, a baleia levou outra lançada e meteu-se por aquele mar abaixo.
Começaram a puxar a linha e a certa altura, parecia que a linha estava presa ao fundo, eram 6 homens a puxar e ás vezes era preciso gritar para controlar a força e puxar à uma, enquanto mestre António ia emendando a linha em volta do lagaiéte (cabeço de madeira dura colocado no leito da popa).
Foram puxando pela linha, levou bastante tempo, quando a baleia chegou à superfície já estava morta mas não flutuava, só depois é que ficou suspensa na água. Mestre António, foi à proa fez-lhe um furo na cauda com uma es
pelha (spade, instrumento cortante ) e passou-lhe um estropo (cabo grosso com duas alças) para o reboque.
Depois cansado
s, cada um puxou da sua bolsa, sentaram-se no meio do bote, puseram em cima da caixa tudo o que trouxeram de casa à disposição dos outros, e cada um foi tirando, comendo e bebendo água doce do “queique”(barrilete de água ). Queria aqui referir, que nesse dia mestre António Ferreira, trazia no seu cabaz, um bolo doce já partido, que dividiu em sete bocados e deu um a cada um. Naquele tempo pensei em fazer a pergunta, porquê bolo doce ? Mas, nunca o soube!
O Vento era L
este e como se costuma dizer, vem a vai com o Sol, para a tarde tinha acalmado. Ficaram para ali, com a baleia presa ao bote, naquele silencio só quebrado por alguma palavra. A tarde já ia alta, a Ilha do Pico parecia um pequeno triângulo e às vezes nem aparecia, e do Faial só avistavam dois pequenos cabeços.
O Bote devia estar mais de 40 milhas a Sudoeste dos Capelinhos.
O Sol ia descendo para o horizonte, quando começou a aparecer o fumo de uma embarcação, o som de um motor, e depois a própria embarcação. Era o “Cachalote”, das Armações Baleeiras do Cais do Pico, tripulado pelo Mestre Cristiano Garcia da Rosa, tendo como maquinista Manuel Guilherme Garcia, residentes em São Roque do Pico, tinha mais um tripulante que era da Prainha do Norte.
Além do Mestre António Ferreira, e o José Cardoso o Andrade era o mais novo, com 17 anos. Os restantes tripulantes do bote, eram, o Manuel Gonçalves Valadão, conhecido pela alcunha de Gaiola, que chegou a andar co
m a carrocinha do Gilberto das lanchas quando este não ia ao Faial. O João Inácio de Serpa, conhecido por João Pão Quente, natural da Prainha do Norte do Pico, cunhado do José Cardoso que, quando este passou a oficial, foi seu trancador, o Fernandes Silveira Leal, conhecido por Fernando do José da Luisa, que jogou ao futebol no Atlético e o Francisco Elias da Candelária do Pico, que foi mestre da lancha da baleia “Liliana”. Todos residentes na freguesia das Angústias.
A baleia foi rebocada para a Fábrica de Porto Pim onde chegou por volta das 3 horas da madrugada.
São passados 61 anos! O Bote N.S. da Angústias é o único que resistiu e não abandonou o Faial, de vez em quando ainda mostra que é a mais belas embarcação que há no mund
o!
Dos baleeiros aqui referidos, o Mestre António Ferreira; O José Cardoso Pinheiro, O João Inácio de Serpa e o Fernandes Silveira Leal emigraram para os EUA, após o Vulcão dos Capelinhos. O Manuel Gonçalves Valadão ficou-se pelo Faial.
Ainda estão vivos o Fernandes Silveira Leal com 83 anos e reside na Florida, e o Andrade com 78 anos, reside no Cais do Pico, Ilha do Pico.
Nota: Tudo o que está aqui relatado é verdadeiro.
Vila de S .Roque do Pico/Setembro 2009

Francisco Andrade de Medeiros
xatinha@sapo.pt
(publicado no nº.3 do Jornal “Triangulo”)



Trecho de filme "Quando o Mar Galgou a Terra" de António Campos, que documenta a caça à baleia nos mares dos Açores.




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O TRIANGULO CAIS DO PICO. VELAS . CALHETA E OS ANOS DE FOME


Autor: Francisco Medeiros
Foram muitas as calamidades, provocadas por vulcões, terremotos, inundações, enchentes e tempestades que assolavam tudo, destruindo habitações, culturas agrícolas e obrigaram muitas famílias a abandonarem a ilha.
Os chamados anos da fome, que atingiram ao longo dos anos muitas ilhas do Arquipélago, até às primeiras décadas do século passado, obrigaram as populações, a imigrar para a ilha mais próxima e de fácil acesso. Há mesmo noticia de ter havido quem morresse à fome.
Este recurso nem sempre foi possível atende
r as necessidades das ilhas vizinhas quando sofriam das mesmas calamidades.
Sucede, que das Ilhas do triângulo, foi a Ilha do Pico, especialmente a fronteira, que mais sofreu, com a carência de milho
por causa da natureza dos seus terrenos de origem vulcânica, mais próprios para plantação de vinha. Os Picarotos negociavam na Ilha do Faial, a compra de milho em maçaroca, nos próprios terrenos de produção. Procedia-se à sua apanha e posteriormente era transportado nos barcos do Pico . Quando o milho chegava ao Pico era muitas vezes descarregado junto à casa dos seus proprietários e todos os vizinhos ajudavam nas desfolhadas, pela noite dentro, iluminados com luzes de incandescência a petróleo. Outros compravam-no, já em grão e muitos outros, especialmente os pescadores, percorriam a Ilha do Faial a pé, em toda a volta, com peixe seco, que trocavam por milho. Uma das últimas calamidades ocorreu com o ciclone tropical, que atingiu o Grupo Central dos Açores, em 24 de Agosto de 1857, provocando a destruição total dos milharais, então a principal produção alimentar das ilhas de São Jorge e Faial, que resultou na penúria generalizada, às três Ilhas do Triângulo.
Esta penúria manifestada pela fome, com as suas cores negras, manteve-se pelos maus anos agrícolas seguintes, com uma crise alimentar que predominou até final do ano de 1859. Foi preciso recorrer a subscrições públicas, incluindo uma nos EUA, organizada pela família Dabney, residente na Ilha do Faial, para evitar que se
morresse à fome.
Estes acontecimentos calamitosos, fizerem com que o Príncipe D. Luís visitasse a Ilha do Faial no Outono de 1858.

Os Dabney foram uma ajuda muito importante, durante ao anos que permaneceram no Faial de 1808 a 1892, suprindo muitas carências de milho e trigo que importavam directamente dos EUA.
A mais recente época de fome conhecida no Pico, data dos anos vinte, do século passado, em que um grupo de picarotos sob a iniciativa de Manuel Inácio Nunes, construtor naval na Califórnia, natural da freguesia de Santo Amaro, recolheram fundos e enviaram para esta Ilha em 1923, cerca de uma centena de sacos de milho, que foram distribuídos pelos mais pobres das freguesias da banda do norte do Pico.
Toda estas crises de trigo e milho, principal alimento das populações, originaram, proibição de saída daquele cereal de algumas ilhas para outras. As Câmaras de Velas e Calheta lançaram anúncios públicos, para que ninguém embarcasse para fora do concelho, sem licença, milho e trigo.
Tal proibição originou a troca de correspondência entre as Câmaras Velas e São Roque, na qual esta
se queixava, das Velas, não deixar sair cereais para este concelho, visto existirem naquele Ilha, grãos em abundância. Numa carta datada de 21 de Abril de 1678, a Câmara de S. Roque, queixava-se dizendo que: "até ao presente data, do que havia na Ilha do Pico, não se fazia nenhum impedimento de saída para aquela ilha (São Jorge) de tudo o que produzia, e que o que daquela importava era devidamente pago". A Câmara de Velas, desculpando-se, em carta dizia que pretendia “controlar a saída qualquer cereal em virtude dos mesmos não serem muito abundantes, pois poderiam fazer falta, e não ser justo a saída os mantimentos". Acrescentando: - “Estejam Vossas Mercês certos que, como bons vizinhos, não faltaremos em o que a justiça der lugar.”
Esta proibição de c
irculação de mercadorias entre as Ilhas do Arquipélago manteve-se por muitos anos.
Só os Barcos do Pico dos portos da fronteira, Calhau, Madalena e Areia Larga estavam isentos de guia de circulação de mercadorias.
Esta imposições originaram um intercâmbio de mercadorias entre portos e portinhos, onde não existiam postos fiscais ao longo da costa Norte do Pico e os da Ilha de São Jorge, sendo as mercadorias transportadas em embarcações de pesca, ao tempo, só à vela ou a remos e durante a noite, quando o tempo lhes dava segurança.
Outra situação que se verificou ao longo dos anos e segundo versão de antigos pescadores, pelo po
rtinho da Furna da Freguesia de Santo António e outros desta banda do Norte do Pico, teriam saído, centenas barris de aguardente, para aquela Ilha.
A proibição da circulação de aguardente, acabou nos anos setenta, com a abolição dos monopólios da venda de álcool.
A circulação de todas as mercadorias em barcos de cabotagem, entre estas duas Ilhas São Jorge e Pico, e bem assim em toda a Região, durante muitos anos estiveram sujeitas a despacho de cabotagem, exigência que só terminou em 1970.
No Cais do Pico, ha
via barcos de boca aberta a motor e à vela que faziam cabotagem quando havia mercadorias ou passageiros a transportar a partir Cais do Pico, para os porto da Horta e os portos da costa de São Jorge, onde era possível acostar, transportando mercadorias e alguns passageiros. Faziam triângulo Cais, Calheta, Velas e alguns portinhos intermédios.
Voltando à proibição da saída de cereais de São Jorge para o Pico, certo dia ao chegar ao porto da Calheta, o mestre de um dos barcos, foi abordado por um sujeito que pretendia embarcar para o Pico, 4 sacas com milho. Naquele tempo era livre a saída de milho do Pico.
O mestre disse-lhe qu
e sim mas, que tivesse o cuidado de colocar os sacos sobre o cais, com rotulo destinado às Velas mas, sem o guarda fiscal ver, que depois tratava do resto.
Como era uso, o mestre lá foi ao posto fiscal desembaraçar o barco e, como era de praxe, o Guarda Fiscal acompanhava o mestre até ao Cais.
Ao chegar ali e vendo os sacos sobre o cais, disse em voz alta para os tripulantes:
- Quem é que mandou descarregar estas sacas ?.
Um dos tripulantes conhecendo bem o seu mestre, já sabia do que se passava, respondeu-lhe:
- Home, a gente parecia-se qu`eram p’rà qui !
- Não viram que o rotulo diz qu’é p’ràs Velas ?
- Metam já isso ai p’ra dentro !.
E os sacos lá embarcaram com o Guarda Fiscal a assistir !
E lá vieram para o Pico .
Junho 2009


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sábado, 18 de abril de 2009

GENTE QUE FICA NA HISTÓRA.

JOÃO BENTO DE LIMA
Autor: Francisco Medeiros

As reformas do sistema administrativo, durante a regência de D. Pedro, com a afirmação e introdução do regime liberal, levaram ao desaparecimento dos capitães-mores.
A vida social se desenvolvia nos salões das famílias mais abastadas, passou a desenvolver-se em sociedades culturais e recreativas, que foram surgindo um pouco por todas as Ilhas. Antes restrita a familias tradicionais, passou a abranger todos os habitantes.

João Bento de Lima, descendente da família Dias de Lima, nascido em 13 de Dezembro de 1859, gozava de grande prestigio político em todo o concelho de São Roque do Pico, por isso tornou-se chefe local do Partido Progressista, baseado no liberalismo.
Figura de grande relevo na Ilha do Pico, era considerado pela sua rectidão de carácter na condução da administração local, sempre disponível par servir quem o procurasse, mesmo que não professasse as suas ideias.
Amigo pessoal do Dr. José Afonso Botelho Andrade, ilustre escritor residente em Ponta Delgada, que desenvolveu brilhante actividade na instrução deste ar
quipélago, este convenceu João Bento de Lima afundar um Gabinete de Leitura em S. Roque do Pico.
Cogregando à sua
voltas porsonalidades do concelho, que contribuíram com donativos para aquisição de obras literárias. O próprio Dr. José Afonso B. Andrade dotou o Gabinete com grande quantidade de livros e revistas.
A inauguração ocorreu a 8 de Maio de 1882, no Edifício dos Passos do Conselho,onde ficou instalado o Gabinete provisoriamente, ao qual foi dado o Nome de Gabinete de Leitura Marques de Pombal.
O discurso de abertura foi proferido pelo Dr. Arsénio Leonel Medeiros, Guarda-Mor de Saúde, perante numerosa assistência que ali se deslocou..

Em 1 de Dezembro de 1883, por iniciativa dos sócios fundadores, o Gabinete de Leitura passou a Sociedade Recreativa. Local de convivência diária, oferecia aos sócios e suas famílias, numerosas obras literárias para leitura, bem como reuniões recreativas.
Além de político, João Bento de Lima foi jornalista de muito prestigio, e um dos continuadores do Jornal o Picoense, que se publicou em São Roque do Pico e se manteve para além d
a sua morte ocorrida em 11 de Julho de 1917.
È ainda no Jornal o Picoense que o Padre Nunes da Rosa a ele se refere após a sua morte:- Inteligente, estudioso, de uma operosidade completa e inquebrantável, aliada ao amor pela sua terra natal e pelos seus concidadãos , homem de acção, de consulta e de trabalho, como outro não conheci; João Bento de Lima marcou com elegância intelectual entre os homens bons da Ilha do Pico...
Em 11 de Janeiro de 19
33, uma comissão de amigos e admiradores da Ilha do Pico, mandou erigir-lhe um obelisco onde foi incrustado um medalhão em bronze com a efígie de João Bento de Lima, no largo do Convento de São Francisco. No obelisco, além do medalhão, e das datas do nascimento e falecimento tem inscrito, Homenagem dos Picoenses. Tinha ainda inscrito Ao Liberal, esta palavra foi retirada do obelisco, possivelmente a mando de alguém, cuja incompetência, incultura e ignorância eram o seu atributo.
A Câmara Municipal, ao tempo, deu o nome João Bento de Lima à rua principal que dá acesso aquele
Convento.
- E agora o reverso da medalha ! Não é o reverso do Medalhão!
Aquele Obelisco,
sendo um marco histórico na vida do Concelho, deveria merecer mais atenção de todos nós, já que com a restauração do Convento, e a Igreja, está a destoar aquele conjunto arquitectónico, pelo mau estado de conservação em que se encontra.
Pode não ser uma prioridade, mas se não soubermos preservar o que nos deixaram, não seremos dignos de viver o presente, e não nos livraremos de ser apontados a dedo pelos vindouros.
Não faltam exemplos por ai !
Só falta um pouco de boa vontade!
Bibliog. História de uma família das Ilhas do Oeste
Arquivo dos Açores

Email do Francisco Medeiros


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A Primavera na ilha do Pico

Autores (a quatro mãos):
Manuel Carapinha e David Avelar

Visitar a ilha do Pico nesta altura de primavera é muito agradável. A flor do incenso, de flores brancas em cacho, com seu perfume, misturam-se ar puro vindo do mar, ora por vezes do cimo da montanha, em correntes descendentes e frescas e lhes dando este ar puro, muito apreciado pelos turistas, que visitam a ilha no verão.

O aroma do incenso é enviando a longas distancias, refrescando os habitantes das freguesias os quais tem o privilegio de todas as manhãs, respirarem este magnífico perfume.

Em dias de calmaria, sem vento, nem chuva, atravessa o canal, entre Pico e São Jorge. Somente na aragem da parte da manhã, vem aquele perfume tão bom, uma dádiva e cumprimento de bom dia, olfativo, dos do Pico, para os habitantes de São Jorge.

Até nisso a ilha maior é imponente, repartindo seu perfume com a irmã-gemea.

O melhor mel é das colméias que ficam perto dos incensos. As abelhas trabalhando arduamente pesquisado os cachos de flores brancas, que as atraem com fragrâncias doces e estas sugando-lhes seu néctar e transportando o pólen, para suas colméias, fabricando assim o mel que o homem vai adquirir para sua alimentação. O mel, saudável, enriquecido pelas suas vitaminas, é o mais caro.

Os Açores conhecidos como as “nove pérolas do Atlântico” tem no Pico sua a perola negra, constituída basicamente de lava do extinto vulcão, ponto mais alto do nosso Portugal, (a terceira maior montanha do mundo, que emerge do Atlântico, atingindo 2 351 metros de altitude). sobressai-se das paisagens verdejantes, como o gigante Adamastor, emergir do mar, com sua montanha descarnada, composta somente de pedra negra. Apesar de ser uma ilha relativamente pequena, (447 km²), a diversidade da flora, tornam-na única. Aliás, características de todas a nove ilhas. Se analisadas como um todo, tem um eco-sistema completo, até com clima sub-tropical, como na ilha de São Miguel.

Paisagem vestida de verde, mostrando a quem passa, as suas faias, usadas pelos mestres de construção civil, para a estrutura dos tetos das casas, construídas de pedras basálticas de cantaria, talhadas à mão com marreta e cinzel.

Os lavradores que tinham carros de bois, faziam os eixos dos troncos da faia.

A criptoméria, uma árvore da família dos pinheiros, muito reta, dava boas tábuas e que havia com abundancia principalmente nas ravinas da encosta da ilha. Eram usadas para a construção dos botes baleeiros e as lanchas que os rebocavam para o mar alto.

A beleza natural dos currais de pedra preta, nas freguesias, onde existem as vinhas, para produção do vinho de cheiro e do verdelho, Pico fostes e continuas a ser uma das grandes perolas dos Açores terra mãe dos emigrantes esgalhados pelo globo dos teus amigos que te freqüentam. Que sejas sempre lembrada por todos aqueles, que te querem bem. Pico saudoso. Que Deus te dê, o que bem mereces; a paz, a igualdade, o afecto e o amor.

Email do Manuel Carapinha

Email do David Avelar
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sábado, 4 de abril de 2009

O MEU PICO

O MEU PICO
Autora. Amélia Ernestina de Avelar

Pico, meu Pico, eis-te agora.
como eu gosto de te ver,

a fronte dominadora
sem tristes véus a erguer!
Rasgou-se o manto cinzento
que envolvendo o firmamento
quási inteiro te escondeu,
e teu talhe aprimorado
lá vou vendo desenhado

no límpido azul do céu!

Ó Pico, assim imponente,

que graça tens a ostentar,
quando luz do sol poente
vem tua fonte dourar!
A águia leve voando,
soberba os ares cortando,
não tem maior altivez;
nem o pinheiro gigante
lançando olhar triunfante
às árv´res que tem aos pés!!..

Como eu te vejo, enlevada,

teu véu de ouro cobrir!
que linda cinta nevada
vem o teu colo cingir!
Dize-me tu – não se acha
doce augúrio nessa faixa
de transparente, alvo tul’ ?

Não prediz ela bonança
num prado cor de esperança,
num céu azul, muito azul?

Prediz-nos serenidade
no espaço, na terra e mar;
fala-nos na suavidade

dumas manhãs d’encantar!..
Mas sombrio capacete,
Se acaso cobre, promete,

profetiza o temporal;
a guerra dos elementos,

a fúria solta dos ventos
destruidora, inda mal!

Mas hoje não é meu Pico
o profeta ameaçador!
Hoje extasiada fico
diante do seu primor.
Hoje é lindo panorama
que as vistas atrai e chama

com atractivos sem fim!
Toda a graça que aproveita
toda a beleza que ostenta,

tem sempre encanto p´ra mim.

Já, caprichoso monarca
descoberta eleva a fronte

nessa altura donde abarca
extenso, vasto horizonte;
e já de lírios cingido

o diadema tão lindo
a faixa cinge também;
se tênue véu azulado
lhe cai aos pés desdobrado
que graça ainda não tem!


Quando a madrugada apenas
principia a alvorecer,
entre jasmins e açucenas
gosto também de o entrever,
e depois, ao sol surgindo,
que parece descobrindo
vir despertá-lo a sorrir,

nas asas leves da aragem,
qual dos cisnes alva plumagem,

seu véu ligeiro fugir.

Oh! Pico, Pico, ness’hora
que belo assim és então!...
Mas quem não te vê agora

com maior admiração?!
pela luz do sol no poente,
dourada a fronte imponente,

num céu que puro ficou,
és um quadro majestoso
que vejo de ar orgulhoso
qual tua filha que sou!


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Amélia Ernestina de Avelar, poetisa Açoreana nasceu na Vila da Madalena, na Ilha do Pico, Açores, no dia 1º de maio de 1848. Filha de José Inácio Soares de Avelar e de Maria Aurora de Avelar.
Integrada na “Escola Romântica”, corrente literária do final do século, seus poemas tomam formas sentimentais. Eles refletem basicamente seu tempo e sua ilhas queridas.
Deixou um livro manuscrito, intitulado Ensaios Poéticos, onde inclui u dos mais belos poemas “O meu Pico”, Em 1870, sua obras, Flor de Giesta, Canto da Noite, A Saudade, Longa da Pátria e o Mar, chegam aos periódicos Faialenses.

O poeta Osório Goulart assim escreve sobre sua obra: - “Foi uma poetisa que usou brilhantemente os adereços literários do seu tempo...”
O escritor Ernesto Rebelo, que foi contemporâneo de Amélia Avellar, no livro de sua autoria “Notas Açoreanas” tem a seguinte apreciação: - “Inspiram-na porém os mais doces sentimentos d´alma e porventura os esplendidos panoramas que a natureza oferece naquela vulcânica ilha”.
O professor Ruy Galvão de Carvalho ao referir-se a ela diz: - “Os seus versos são reveladores de uma alma dotada dos mais doces sentimentos”.
Romântica e sonhadora, com sua poesia espontânea, expõe com naturalidade a sua época.
Em 26 de julho de 1878, casou com Antonio Mariano César Ribeiro, então Coronel do Exército Português.
Amélia acompanha o marido ao Ultramar, onde este serviu durante algum tempo na província de Angola, em Moçâmedes e na capital, Luanda. Dedicou grande parte da sua vida às letras e, aos doze anos, apresentava em público, as primeiras composições.
Faleceu a 13 de outubro de 1886 em Angra do Heroísmo - Açores.

Links relacionados:
Biblioteca Nacional de Portugal
Persitência de uma saudade. Sobre uma "doença" açoreana. Chamada Saudade.
Universidade Nova Lisboa. Faces de Eva.

Notas do meu retiro - Ermelindo Ávila
Literatura Açoreana.
Jardim das Letras
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terça-feira, 31 de março de 2009

À Sombra do Vulcão

Autora: Maria Manuela Avelar Goulart


A ilha do Pico é uma das nove ilhas, que constituem o Arquipélago dos Açores. O seu nome se deve à imensa montanha, aliás, um vulcão que domina a ilha. É de uma beleza sem igual, porque é uma pirâmide quase perfeita, vista pelo lado norte da ilha. É a montanha mais alta de Portugal e sua altitude é de 2.36l metros, vista do sul lembra enorme gigante que levantando-se do mar a se debruçar sobre a ilha.
No alto do vulcão, um pequeno píncaro que chamam de “piquinho” forma o ápice, indo como a rasgar as nuvens que quase sempre cobrem-lhe o cume. No inverno, com o céu muito azul, a servir de moldura, ele fica muito belo com o seu chapéu branco de neve, e nas frias e serenas manhãs, quando nasce o sol tinge a neve tons rosados. É lindo! A sua altitude e posição especial fazem dele um barômetro seguro, não só para os barcos de carreira, que passam por ali, mas como para o povo das ilhas próximas, e principalmente os pescadores que desejam saber as alterações do tempo. Seus prognósticos são infalíveis e os marinheiros o tem como agulha de marear, quando está coberto de nuvens, denota ventos maréos, como o sudoeste, quando tem só uma cinta de nuvens e todo o resto descoberto, são ventos noroeste e se está com um chapéu, é sinal de mau tempo.
Sempre que tem um pequeno penacho de fumaça, a sair de sua caldeira ainda ativa, pareçe nos fazer lembrar, que está só adormecido e que algum dia pode acordar, e de bonito cartão postal, pode se transformar num monstro fumegante.
A seus pés estende-se a ilha, com suas Vilas e Concelhos e em pequeninas povoações ou lugarejos, ora beirando o mar, ou se empoleirando nas íngremes encostas.
O seu povo é alegre e hospitaleiro e os campos são cultivados com carinho, aproveitando-se cada pedacinho de terra.
A ilha tem um litoral recortado por enseadas, grutas e rochedos e nas noites de lua cheia com o mar alto, é belíssimo. O espetáculo das ondas cobrindo os rochedos como um manto de espumas prateadas, pareçe tirado de um conto aventuras marinhas.
Em certos pontos, vêem-se extensos campos de lavas negras, que o povo ingenuamente chama de mistérios, porque elas vem do mar e atravessam a ilha. Dizem os antigos, que o vulcão tinha rompido as águas do mar e lançado lava tão alta e violenta, que formou aqueles campos. Ainda hoje só nasce ali uma vegetação rasteira; as urzes, principalmente, com suas pequeninas flores perfumadas. Em algumas freguesias, os moradores plantaram figueiras, que se adaptaram bem ao solo e produzem bastante, no verão. As que não são vendidas, fazem com elas uma águardente deliciosa, em pequenos alambiques artesanais. Existem muitos bosques de faias e incensos
, que perfumam o ar com suas flores tão delicadas. Também cultivam vinhedos, com o qual eles fazem um vinho branco ou tinto, para consumo caseiro.
No verão quando passamos pelos campos, nas encostas da ilha, adoramos ver as mulheres nos “poleiros”. Nos campos de trigo dourado, elas fazem pequeninas barracas no meio de cada campo. São feitas com giesta seca, cobrindo uma armação de madeira. Estas mulheres, passam o dia todo ali, até à colheita do trigo, espantando os pássaros. O trigal é todo cercado de cordas com latas penduradas e de quando em quando, elas puxavam o cordão principal, (guia) e as latas se chocam fazendo barulho afugentando os pardais, então para melhor passar o dia naquela solidão, levam o seu tricô ou renda e um farnel, geralmente composto de pão e queijo ou sardinhas, para matar a fome.
A freguesia de São Miguel Arcanjo, fica no alto de um monte, antigo vulcão extinto, é uma vasta floresta de pinheiros. Ali se respira um ar puríssimo e se tem uma vista magnífica, sobre a faixa costeira do Concelho de São Roque, que lhe fica aos pés. Em muitas dessas freguesias se verifica que a ilha foi povoada por diversas etnias, que no passado foram aportando naquelas ilhas. À beira do mistério de Santa Luzia, se formou uma freguesia. Dizem que seu povo é descendente de judeus e é um povo trabalhador e humilde.
A terra não é muito fértil para a agricultura. Em se tratando de hortaliças e legumes, eles só cultivam perto da casa para seu consumo. Então dedicam-se à cultura de maçãs, pêssegos, figos e amoras silvestres, que todos os dias vem vender, por todas as casas das vilas. E também mandam para a ilha do Faial, que fica perto. Também criam gado para corte e leite. Fazem uns queijos frescos, ótimos. As mulheres trabalham muito, colhendo as frutas e vendendo. Elas cobrem a cabeça com os chailes, ou lenços pretos, ou coloridos e usavam saias compridas. Muitos destes agricultores, fazem no meio dos vinhedos, pequenas casas que eles chamam de adegas, onde eles guardavam as pipas com vinho e água doce que era uma raridade. Nos dias de festas, ou de descanso, fazem as suas “patuscadas”, como eles dizem.
A Vila da Madalena não fica longe, e é o principal porto da ilha, que faz a ligação através de pequenas lanchas com a ilha fronteira, o Faial! É ali que chegam os ônibus de todas as partes da ilha, com pessoas que vão e vem ao Faial, por ser a travessia mais curta, apenas ali se embarcam produtos da ilha, frutas, legumes etc. A Madalena é uma vila muito bonita com pequenas ruas e tudo bem cuidado. A igreja de Santa Maria Madalena tem uma praça com coreto, e apenas uma estrada, a separá-la do mar. O lindíssimo altar-mor é todo folheado a ouro. Dizem que ali aportaram diversas raças, entre elas, os árabes, os espanhois, e os marroquinos. As pessoas são alegres, curtidas pelo sol e na maioria são pescadores, que tem seus barcos e que vão todos os dias, ou noites para a pesca. Também cultivam melancias melões e maçãs. A terra é arenosa e no inverno, quando acontecem as grandes tempestades, o mar bravio joga nos rochedos grande quantidade de sargaços, que o povo vinha recolher em cestos redondos, que carregavam na cabeça, para adubar as terras. Há uma estrada reta que é uma aldeia de vinhedos e vai dar num pequeno balneário chamada Areia Larga. Lá moravam os meus avós paternos e eu adorava aquele lugar, era composto quase só de pescadores e havia grandes casarões em estilo colonial, para onde as pessoas ricas e famílias tradicionais do Faial, vinham passar o verão. Encontra-se ali uma faixa de areia escura, talvez, a única da ilha, que o nome ao lugar. O pequeno porto da Areia Larga é a alternativa marítima. Quando o mar está violento demais, no porto da vila da Madalena, as lanchas iam ali, desembarcar os passageiros e mercadorias. Muitas vezes os marinheiros tinham que carregar, as pessoas da lancha para a terra, pois o mar não permitia a lancha atracar. Dizem que entre as duas ilhas, passa a corrente do Golfo, por isso é comum o mar bravio. O verão lá era muito bom. As crianças aprendiam a nadar de um modo engraçado, porque o mar é fundo e há pequenas rochas. Então prendiam uma corda grossa numa cana ou bambu, com uma lona na extremidade, que era passada e amarrada na barriga das crianças, deixando os braços e pernas livres. Um homem segurava e orientava nos movimentos. Em pouco tempo aprendiam a nadar. Todos se conheciam e quase todos eram parentes. A casa dos meus avós paternos havia sido outrora, um pequeno convento. Era um casarão enorme, com um porão altíssimo onde se guardavam enfileirados, os barris com vinho produzido nos vinhedos, que eles cultivavam e ficavam no meio de um terreno, que eles protegiam do mar, com paredes altíssimas, dividindo em grande hortas, que chamavam de cerrados, onde se cultivavam de tudo, principalmente vinhedos e figueiras. Havia um terreiro enorme de cimento, onde se batia tremoços. No tempo das vindimas, era um trabalho duro percorrer todos os pequenos currais, onde se cultivava a vinha, apanhando as uvas brancas douradas de tão maduras, que eram levadas para o lagar ou alagar, que se encontrava num enorme galpão, onde, com prensas de madeira, em forma de rosca, eram espremidas e o suco, depois de pronto, se transformava num vinho muito bom, dourado como mel. O casarão era à beira-mar, separado deste, apenas por um alto muro, porque em dias de tempestade, não se podia entrar pelo portão principal, o mar não deixava. Então entrava-se por uma estreita vereda, nos fundos do terreno. Uma das tradições pesqueiras das Ilhas, era a pesca da baleia. Hoje faz parte de históiria dos Açores! O Pico era um dos principais produtores, com duas fábricas conhecidas como Armações Baleeiras. Das Lajes e no Cais do Pico, saiam para a caça à baleia.
Geralmente saía uma lancha de apoio a uma porção de pequenos botes a remo, finos e longos, chamados de baleeiras. Eles é que caçavam o cachalote, espécie de baleia comum àquelas águas, que às vezes percorriam distâncias imensas antes de morrer. Então a lancha os rebocava para o porto da fábrica. Era engraçado o modo pelo qual eles sabiam que lá longe passavam um cardume. No cimo dos cabeços, haviam pequeninas casas, onde ficavam os vigias, que com binóculos de longo alcance, viam passar os cardumes, que eram localizados pelos jatos d’água que lançavam. Então quando os localizavam, faziam sinais e lá iam os pescadores, que nem sempre eram bem sucedidos. Da baleia se aproveitava tudo. Os dentes viravam finas peças de artesanato, ainda hoje vendidas nas lojas de souvenir das ilhas. Seus ossos e sua carne, eram transformados em adubo e a sua gordura em óleo, geralmente exportado para a Europa. Até as barbatanas eram aproveitadas para fazer travas de colarinho nas camisas. Vale ressaltar que a pesca era artesanal e que muitos homens perderam a vida, naquela aventura. Ao contrário do que acontece hoje, os mestres-arpoadores ou trancadores, usavam arpões manuais.
Pelo mar do Açores dizem que passavam antigamente muitos navios piratas, que às vezes naufragavam e outras vezes se abrigavam nas enseadas, ou iam em busca de água doce. Há marcas dessas passagens em algumas partes das ilhas, como um cais feito em pedras cortadas, com três pequenos degraus, até à linha d’água e por isso foi dado ao povoado, o nome de Cais do Pico. Em algumas cavernas, com entrada pelo mar, foram encontrados utensílios rústicos. Na parte norte da ilha, se encontram algum pequenos conventos, todos eles construídos à beira-mar, sendo que alguns tinham saídas subterrâneas para o mar. O mais bonito deles e o maior, é o convento de São Pedro de Alcântara, que fica no Cais do Pico. Ele difere dos outros, porque é circundado por amplos jardins. Em forma de quadrado. A igreja tomava um dos lados, tem obras belíssimas de entalhe, feitas em madeira e marfim. Trabalho artezanal feito pelos frades com canivete. Ali funcionavam a Câmara do Concelho de São Roque do Pico e o Tribunal de Justiça. No inverno, havia sessões de cinema, na parte inferior, onde esperávamos num jardim central chamado de claustro, com sua cruz de pedra. Hoje ele é um museu.

Nota da Autora: Escrevo com o verbo no presente, pois saí de lá há 50 anos e quando escrevo vejo-me ainda jovem a vivenciar tudo isto.

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O VELHO CAIS


Autor: Manuel Carapinha

Como esquecer o lugar onde nascemos?

Não é possível!

Nas horas em que estamos em silêncio, pensamos na nossa juventude e dos anos, que já lá vão.

Vivi no Cais do Pico, até aos meus 20 anos, mas hoje recordo com saudade, aqueles tempos de derreter baleia, no porto que agora se chama velho. Ele está lá. Co
mo guardião dos velhos tempos a nos lembrar de um passado de glórias e labuta na "caça à baleia". Foguetes para o ar, Baleia! Baleia! – gritavam. A bandeira está estendida no cabeço de SANTA ANA. Botes para o mar. Lanchas prontas para rebocarem os botes. As esposas dos marinheiros com roupa e uma saquinha, com pão e queijo, feito por estas, do leite de suas cabras, criadas com rama de incenso e faia. Seguiam com seus olhos brilhantes, os maridos que iam há procura do pão, para seus filhos, mais tarde se saberia, que o mestre Manuel Januário tinha apanhado uma baleia. Alegria na casa de derreter. Acendia-se o lume, debaixo dos grandes caldeirões, para quando chegasse a baleia, estivesse tudo pronto para se derreter. Verdade! Sucedia assim,. Começa-se a desmanchar o corpo da baleia. Vários homens com celhas. Cada dois homens, com seu pau de palanca, transportam os toucinhos para os caldeirões, quando estes estão derretidos, o que lhe chamavam torresmos, serviam para dar mais atividade ao lume. Nós, rapazes do meu tempo, lá íamos com maçarocas de milho e rodelas de batata doce, para assar no azeite, como era chamado o óleo de baleia. Era muito bom! A casa de derreter ficava situada ao lado da rampa de varar as embarcações. Ao seu lado direito, olhando da terra para o mar, ficava a casa de derreter. Tempo que não mais me esqueço. Em frente da casa de derreter estava a Alfândega, casa de altos e baixos. Os baixos, servindo de armazém de mercadorias, este vigiado pela Guarda Fiscal. No lado, passava a estrada e em frente, ficava o varadouro. Ai havia a loja do Senhor JOSÉ TOMÁS, onde os marinheiros lá iam comprar os seus cigarros e tomar um copinho. Pobreza, alegria de viver, corações vibrando, esperando o fim de ano para fazerem as contas e receber sua soldada, para comprar seu milho para os alimentar no ano seguinte. - Tudo bem; - diz o Senhor JOSÉ MARIA, vindo da América. Rapazes, não esperem muito, porque essa pesca à baleia é comparada com o ovo. O Guarda Fiscal Cota, sem entender nada, pergunta; - como assim? É fácil, a gema é para o patrão, a clara é para pagar os combustíveis e as cascas para vocês baleeiros. Assim termino com “recordar é viver”.

Um abraço ao Velho Cais.

Email do Manuel Carapinha




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sábado, 28 de março de 2009

DESARECEU MAIS UM MESTRE DO CANAL

EM MEMÓRIA DO MESTRE JOSÉ MEDEIROS.
Autor: Francisco Medeiros


Desapareceu do nosso convívio mais um, “Mestre do Canal”. O nosso “CANAL”!*
O Mestre José Medeiros da Rosa Júnior, falecido no mês findo (abril 2002) na Cidade da Horta.
Como ele disse um dia, com um pouco de humor atravessou o canal em “cinquenta mil viagens”, muitas delas, em más condições de mar, quase atingindo o limite da segurança, para transportar doentes em risco de vida, para o hospital da Horta.
Foi numa “Terça-feira do Espirito Santo” há quatro ou cinco anos, no adro da Igreja de Santa Maria Madalena, que me contou, uma autentica odisseia com a lancha “CALHETA”, para retirar de bordo de um navio estrangeiro, um doente em risco de vida, num dia que não foi possível atravessar o Canal, em virtude, do mau tempo do Noroeste ter “tapado” os portos da “Fronteira”.
Acompanhado de um interprete, conseguiu pela rádio, dar indicações ao Comandante, para este posicionar o navio da melhor forma, para retirar de bordo o doente, tendo a tentativa sido coroada de êxito, com o desembarque do doente amarrado a uma maca .
Antes da Construção do actual Porto da Madalena, que veio melhorar as condições de embarque e desembarque de passageiros em segurança, após cinco séculos do povoamento desta ilha, as lanchas do Pico, recorriam não só aos portos da “Fronteira”; Madalena, Areia Larga e Calhau, mas também aos Portos do Cais do Pico, São Mateus e Prainha do Galeão. Portos que pela dificuldade da sua praticabilidade, com mau tempo, fez dos tripulantes das lanchas do Pico, grandes marinheiros, muitos deles pela sua tenacidade, faziam-se ao mar com espirito de bem servir para salvar vidas, tornando-se autênticos heróis. Cabe aqui referir que nunca ficou por transportar para a Ilha do Faial, sempre que tempo o permitia, a qualquer hora do dia ou da noite, um doente que tivesse de ser atendido de urgência no Hospital da Horta.
Muitas “histórias” há para contar, acerca de barcos e marinheiros do “Canal”, algumas com sabor a odisseia trágico-marítima, onde homens de rija tempera, tisnados com o sal do canal, se tornaram mitos na arte de navegar que ainda hoje perduram na nossa memória.
O José Medeiros era um homem da “Fronteira”, nasceu na Areia Larga freguesia da Madalena na Ilha do Pico, a 6 de Fevereiro de 1933, duma família de pescadores, também ele, filho de mestre de “Canal” o Mestre José Medeiros da Rosa, quando as Lanchas eram propriedade dos Lourenços.
Ainda muito jovem, como os seus antepassados, enveredou pela vida do mar onde começou envolver-se na actividade de pescador aprendendo a conhecer e a lidar com o mar.
Durante 27 anos foi tripulante da Empresa das Lanchas do Pico, dos quais, os 3 primeiros como Motorista e os restantes como Mestre e algum tempo dos “Cruzeiros” da Empresa Transmaçor”, proprietária da Empresa das Lanchas do Pico.
Conta-se que numa dessas viagens a lancha “Espalamaca”, ao chegar debaixo de mau tempo ao Porto da Madalena, tendo como mestre o José Medeiros, este dirigiu-se ao Gerente Sr. João Quaresma dizendo:
- Ó Senhor João, as janelas do lado de estibordo da cabina de proa da “Espalamaca”, estão a meter água e os passageiros estão a queixar-se !
Ao que o Sr. João Quaresma respondeu:
- Ó José, as janelas das lanchas, se não metessem água ,as carreiras eram feitas com “Camionetas”.
O José Medeiros, encontrava-se na situação de reforma, e residia na Freguesia das Angustias da Ilha do Faial, tendo falecido após doença prolongada, no dia 21 de Abril findo, com 69 anos de idade.
É tempo de se começar a pensar em “Homenagear”, os MARINHEIROS ANÔNIMOS DA ILHA DO PICO, , que passaram e passam pelo “Canal”: e dele fizeram o seu local de trabalho: “Mestres” “Marinheiros” e “Pescadores” abrangendo todos os tripulantes da ilha do Pico, das “Lanchas de passageiros” dos “Barcos do Pico”, e de “Pesca”, erigindo um monumento na “Fronteira”, adjacente ao actual Porto da Madalena, local privilegiado pela sua amplitude.
Maio 2002
Francisco A. Medeiros.

* - O "Canal" a que se refere o autor, é o braço de mar, que separa a ilha do Pico, com a ilha do Faial. Conhecido e temido por ser tempestuoso, deu título a um livro do escritor terceirence, Vitorino Nemésio, publicado em 1949.
Leia mais:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mau_Tempo_no_Canal
http://pt.wikipedia.org/wiki/Vitorino_Nem%C3%A9sio



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