Crônicas, contos e narrativas do passado, de gente que vive na ilha do Pico, ou estão espalhadas pelo mundo e tem muitas estórias para contar. Mande seu conto.

sábado, 18 de abril de 2009

GENTE QUE FICA NA HISTÓRA.

JOÃO BENTO DE LIMA
Autor: Francisco Medeiros

As reformas do sistema administrativo, durante a regência de D. Pedro, com a afirmação e introdução do regime liberal, levaram ao desaparecimento dos capitães-mores.
A vida social se desenvolvia nos salões das famílias mais abastadas, passou a desenvolver-se em sociedades culturais e recreativas, que foram surgindo um pouco por todas as Ilhas. Antes restrita a familias tradicionais, passou a abranger todos os habitantes.

João Bento de Lima, descendente da família Dias de Lima, nascido em 13 de Dezembro de 1859, gozava de grande prestigio político em todo o concelho de São Roque do Pico, por isso tornou-se chefe local do Partido Progressista, baseado no liberalismo.
Figura de grande relevo na Ilha do Pico, era considerado pela sua rectidão de carácter na condução da administração local, sempre disponível par servir quem o procurasse, mesmo que não professasse as suas ideias.
Amigo pessoal do Dr. José Afonso Botelho Andrade, ilustre escritor residente em Ponta Delgada, que desenvolveu brilhante actividade na instrução deste ar
quipélago, este convenceu João Bento de Lima afundar um Gabinete de Leitura em S. Roque do Pico.
Cogregando à sua
voltas porsonalidades do concelho, que contribuíram com donativos para aquisição de obras literárias. O próprio Dr. José Afonso B. Andrade dotou o Gabinete com grande quantidade de livros e revistas.
A inauguração ocorreu a 8 de Maio de 1882, no Edifício dos Passos do Conselho,onde ficou instalado o Gabinete provisoriamente, ao qual foi dado o Nome de Gabinete de Leitura Marques de Pombal.
O discurso de abertura foi proferido pelo Dr. Arsénio Leonel Medeiros, Guarda-Mor de Saúde, perante numerosa assistência que ali se deslocou..

Em 1 de Dezembro de 1883, por iniciativa dos sócios fundadores, o Gabinete de Leitura passou a Sociedade Recreativa. Local de convivência diária, oferecia aos sócios e suas famílias, numerosas obras literárias para leitura, bem como reuniões recreativas.
Além de político, João Bento de Lima foi jornalista de muito prestigio, e um dos continuadores do Jornal o Picoense, que se publicou em São Roque do Pico e se manteve para além d
a sua morte ocorrida em 11 de Julho de 1917.
È ainda no Jornal o Picoense que o Padre Nunes da Rosa a ele se refere após a sua morte:- Inteligente, estudioso, de uma operosidade completa e inquebrantável, aliada ao amor pela sua terra natal e pelos seus concidadãos , homem de acção, de consulta e de trabalho, como outro não conheci; João Bento de Lima marcou com elegância intelectual entre os homens bons da Ilha do Pico...
Em 11 de Janeiro de 19
33, uma comissão de amigos e admiradores da Ilha do Pico, mandou erigir-lhe um obelisco onde foi incrustado um medalhão em bronze com a efígie de João Bento de Lima, no largo do Convento de São Francisco. No obelisco, além do medalhão, e das datas do nascimento e falecimento tem inscrito, Homenagem dos Picoenses. Tinha ainda inscrito Ao Liberal, esta palavra foi retirada do obelisco, possivelmente a mando de alguém, cuja incompetência, incultura e ignorância eram o seu atributo.
A Câmara Municipal, ao tempo, deu o nome João Bento de Lima à rua principal que dá acesso aquele
Convento.
- E agora o reverso da medalha ! Não é o reverso do Medalhão!
Aquele Obelisco,
sendo um marco histórico na vida do Concelho, deveria merecer mais atenção de todos nós, já que com a restauração do Convento, e a Igreja, está a destoar aquele conjunto arquitectónico, pelo mau estado de conservação em que se encontra.
Pode não ser uma prioridade, mas se não soubermos preservar o que nos deixaram, não seremos dignos de viver o presente, e não nos livraremos de ser apontados a dedo pelos vindouros.
Não faltam exemplos por ai !
Só falta um pouco de boa vontade!
Bibliog. História de uma família das Ilhas do Oeste
Arquivo dos Açores

Email do Francisco Medeiros


diHITT - Notícias

A Primavera na ilha do Pico

Autores (a quatro mãos):
Manuel Carapinha e David Avelar

Visitar a ilha do Pico nesta altura de primavera é muito agradável. A flor do incenso, de flores brancas em cacho, com seu perfume, misturam-se ar puro vindo do mar, ora por vezes do cimo da montanha, em correntes descendentes e frescas e lhes dando este ar puro, muito apreciado pelos turistas, que visitam a ilha no verão.

O aroma do incenso é enviando a longas distancias, refrescando os habitantes das freguesias os quais tem o privilegio de todas as manhãs, respirarem este magnífico perfume.

Em dias de calmaria, sem vento, nem chuva, atravessa o canal, entre Pico e São Jorge. Somente na aragem da parte da manhã, vem aquele perfume tão bom, uma dádiva e cumprimento de bom dia, olfativo, dos do Pico, para os habitantes de São Jorge.

Até nisso a ilha maior é imponente, repartindo seu perfume com a irmã-gemea.

O melhor mel é das colméias que ficam perto dos incensos. As abelhas trabalhando arduamente pesquisado os cachos de flores brancas, que as atraem com fragrâncias doces e estas sugando-lhes seu néctar e transportando o pólen, para suas colméias, fabricando assim o mel que o homem vai adquirir para sua alimentação. O mel, saudável, enriquecido pelas suas vitaminas, é o mais caro.

Os Açores conhecidos como as “nove pérolas do Atlântico” tem no Pico sua a perola negra, constituída basicamente de lava do extinto vulcão, ponto mais alto do nosso Portugal, (a terceira maior montanha do mundo, que emerge do Atlântico, atingindo 2 351 metros de altitude). sobressai-se das paisagens verdejantes, como o gigante Adamastor, emergir do mar, com sua montanha descarnada, composta somente de pedra negra. Apesar de ser uma ilha relativamente pequena, (447 km²), a diversidade da flora, tornam-na única. Aliás, características de todas a nove ilhas. Se analisadas como um todo, tem um eco-sistema completo, até com clima sub-tropical, como na ilha de São Miguel.

Paisagem vestida de verde, mostrando a quem passa, as suas faias, usadas pelos mestres de construção civil, para a estrutura dos tetos das casas, construídas de pedras basálticas de cantaria, talhadas à mão com marreta e cinzel.

Os lavradores que tinham carros de bois, faziam os eixos dos troncos da faia.

A criptoméria, uma árvore da família dos pinheiros, muito reta, dava boas tábuas e que havia com abundancia principalmente nas ravinas da encosta da ilha. Eram usadas para a construção dos botes baleeiros e as lanchas que os rebocavam para o mar alto.

A beleza natural dos currais de pedra preta, nas freguesias, onde existem as vinhas, para produção do vinho de cheiro e do verdelho, Pico fostes e continuas a ser uma das grandes perolas dos Açores terra mãe dos emigrantes esgalhados pelo globo dos teus amigos que te freqüentam. Que sejas sempre lembrada por todos aqueles, que te querem bem. Pico saudoso. Que Deus te dê, o que bem mereces; a paz, a igualdade, o afecto e o amor.

Email do Manuel Carapinha

Email do David Avelar
diHITT - Notícias

sábado, 4 de abril de 2009

O MEU PICO

O MEU PICO
Autora. Amélia Ernestina de Avelar

Pico, meu Pico, eis-te agora.
como eu gosto de te ver,

a fronte dominadora
sem tristes véus a erguer!
Rasgou-se o manto cinzento
que envolvendo o firmamento
quási inteiro te escondeu,
e teu talhe aprimorado
lá vou vendo desenhado

no límpido azul do céu!

Ó Pico, assim imponente,

que graça tens a ostentar,
quando luz do sol poente
vem tua fonte dourar!
A águia leve voando,
soberba os ares cortando,
não tem maior altivez;
nem o pinheiro gigante
lançando olhar triunfante
às árv´res que tem aos pés!!..

Como eu te vejo, enlevada,

teu véu de ouro cobrir!
que linda cinta nevada
vem o teu colo cingir!
Dize-me tu – não se acha
doce augúrio nessa faixa
de transparente, alvo tul’ ?

Não prediz ela bonança
num prado cor de esperança,
num céu azul, muito azul?

Prediz-nos serenidade
no espaço, na terra e mar;
fala-nos na suavidade

dumas manhãs d’encantar!..
Mas sombrio capacete,
Se acaso cobre, promete,

profetiza o temporal;
a guerra dos elementos,

a fúria solta dos ventos
destruidora, inda mal!

Mas hoje não é meu Pico
o profeta ameaçador!
Hoje extasiada fico
diante do seu primor.
Hoje é lindo panorama
que as vistas atrai e chama

com atractivos sem fim!
Toda a graça que aproveita
toda a beleza que ostenta,

tem sempre encanto p´ra mim.

Já, caprichoso monarca
descoberta eleva a fronte

nessa altura donde abarca
extenso, vasto horizonte;
e já de lírios cingido

o diadema tão lindo
a faixa cinge também;
se tênue véu azulado
lhe cai aos pés desdobrado
que graça ainda não tem!


Quando a madrugada apenas
principia a alvorecer,
entre jasmins e açucenas
gosto também de o entrever,
e depois, ao sol surgindo,
que parece descobrindo
vir despertá-lo a sorrir,

nas asas leves da aragem,
qual dos cisnes alva plumagem,

seu véu ligeiro fugir.

Oh! Pico, Pico, ness’hora
que belo assim és então!...
Mas quem não te vê agora

com maior admiração?!
pela luz do sol no poente,
dourada a fronte imponente,

num céu que puro ficou,
és um quadro majestoso
que vejo de ar orgulhoso
qual tua filha que sou!


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Amélia Ernestina de Avelar, poetisa Açoreana nasceu na Vila da Madalena, na Ilha do Pico, Açores, no dia 1º de maio de 1848. Filha de José Inácio Soares de Avelar e de Maria Aurora de Avelar.
Integrada na “Escola Romântica”, corrente literária do final do século, seus poemas tomam formas sentimentais. Eles refletem basicamente seu tempo e sua ilhas queridas.
Deixou um livro manuscrito, intitulado Ensaios Poéticos, onde inclui u dos mais belos poemas “O meu Pico”, Em 1870, sua obras, Flor de Giesta, Canto da Noite, A Saudade, Longa da Pátria e o Mar, chegam aos periódicos Faialenses.

O poeta Osório Goulart assim escreve sobre sua obra: - “Foi uma poetisa que usou brilhantemente os adereços literários do seu tempo...”
O escritor Ernesto Rebelo, que foi contemporâneo de Amélia Avellar, no livro de sua autoria “Notas Açoreanas” tem a seguinte apreciação: - “Inspiram-na porém os mais doces sentimentos d´alma e porventura os esplendidos panoramas que a natureza oferece naquela vulcânica ilha”.
O professor Ruy Galvão de Carvalho ao referir-se a ela diz: - “Os seus versos são reveladores de uma alma dotada dos mais doces sentimentos”.
Romântica e sonhadora, com sua poesia espontânea, expõe com naturalidade a sua época.
Em 26 de julho de 1878, casou com Antonio Mariano César Ribeiro, então Coronel do Exército Português.
Amélia acompanha o marido ao Ultramar, onde este serviu durante algum tempo na província de Angola, em Moçâmedes e na capital, Luanda. Dedicou grande parte da sua vida às letras e, aos doze anos, apresentava em público, as primeiras composições.
Faleceu a 13 de outubro de 1886 em Angra do Heroísmo - Açores.

Links relacionados:
Biblioteca Nacional de Portugal
Persitência de uma saudade. Sobre uma "doença" açoreana. Chamada Saudade.
Universidade Nova Lisboa. Faces de Eva.

Notas do meu retiro - Ermelindo Ávila
Literatura Açoreana.
Jardim das Letras
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