Crônicas, contos e narrativas do passado, de gente que vive na ilha do Pico, ou estão espalhadas pelo mundo e tem muitas estórias para contar. Mande seu conto.

domingo, 18 de abril de 2010

HISTÓRIA DOS BARCOS DO PICO I

O “TERRA ALTA “
                                                                                     Autor: Francisco Medeiros
Vista de cima do ramal que a liga à estrada Regional, a freguesia de Santo Amaro é linda.
Na ilha do Pico com o casario encosta abaixo, disperso entre o verde da vegetação, com a sua Igreja e o seu porto ao centro. Tendo como remate a ponta Leste da Baia do Canto da Areia e ao o fundo a Prainha.
Foi do porto de Santo Amaro que em 1947 saiu o “Terra Alta”, iniciando as suas viagens nos Grupos Central e Oriental dos Açores.
Natural desta terra, foi também o seu primeiro mestre, Manuel Joaquim Neves, já falecido com a proveta, idade de 91 anos, marinheiro experimentado e sabedor das coisas do mar, aliadas a uma delicadeza de trato, cumprimento do dever e de bem servir. Muito lhe devem estudantes, militares e populações por essas ilhas fora.
Muitas fora as vicissitudes por que passou, além das naturais provocadas pelo mar, com algumas viagens menos boas mas sempre superadas. Outras houve de ordem burocrática, por vezes com exagero e exorbitância de funções por agentes do Estado.
Há dias fui a Santo Amaro fazer-lhe uma visita, pois encontra-se adoentado. Recordando coisas passadas contou-me ele:
Que certo dia no Porto de Ponta Delgada e após proceder na Alfândega ao despacho do Terra Alta para sair com carga e passageiros, para as ilhas do Grupo Central, ao dirigir-se para o Cais de embarque, onde o barco estava atracado, verificou que os passageiros já se encontravam todos a bordo sem sua autorização e, sem presença do cabo de mar. Ao perguntar ao agente da Policia de Segurança e Defesa do Estado mais conhecida pela Pide, quem tinha autorizado o embarque dos passageiros mais cedo este respondeu-lhe que tinha sido ele, porque ia para um casamento.
O Cabo de Mar quando ali chegou aceitou as informações do mestre, considerando o embarque já consumado, dizendo ao mestre que podia sair mas, foi avisando que iria dar conhecimento da ocorrência ao Capitão do Porto.
Na viagem seguinte à sua chegada estava o mesmo cabo de mar, que lhe disse:
- Ó mestre, o senhor tem que estar às 10 horas na capitania !
- O que é que se passa ?
- Olhe eu fiz a participação e o senhor tem que ir falar com o Capitão do Porto.
Como ainda era cedo dirigiu-se à capitania para entregar as listas dos passageiros onde trabalhava o patrão mor, um tal tenente Santos. Quando lá chegou aquele disse-lhe:
-Ó Terra Alta! Prepara-te porque tens aqui um processo muito grande por causa do embarque dos passageiros sem a presença do agente da autoridade marítima.
O tal tenente Santos chamava-lhe Terra Alta. Durante muitos anos os mestres do Terra Alta usavam no boné uma fita bordada com o nome do barco.
Mestre Manuel Joaquim, perguntou-lhe o que é que ele achava que fizesse para solução da situação e, o patrão mor disse-lhe que ele procurasse alguém na Cidade que o desenrascasse.
Ele assim fez e, foi procurar um Senhor Carlos que era empregado da firma Domingos Dias Machado, a quem contou o que se passava e, este disse-lhe:
- Tu não tens um irmão que é padre ?
Tenho sim senhor !
- Olha eu tenho visto o Padre da Matriz a passear muito de automóvel com o Capitão do Porto.
Foi procurar o Padre da Matriz e quando lá chegou, o padre disse-lhe:
- Ó mestre tu por aqui, o que é que andas fazendo? Entra pra dentro, vamos tomar café. Tu estás nervoso! Quando é que sais?
Disse que na amanhã seguinte, mas que tinha uma participação na capitania, iam reter os documentos e o barco e contou-lhe tudo o que se tinha passado, ao que o padre lhe disse:
Olha, vais fazer tudo como se nada se tivesse passado !
Assim fez. Na viagem seguinte foi novamente chamado à Capitania e foi presente ao Capitão do Porto. Quando lá chegou este perguntou-lhe:
- Tu é que és o mestre do Terra Alta ?
Ele estava farto de o conhecer, pois já tinha sido Capitão do Porto da Horta (Cap.Ten. Newton da Fonseca)
- Vocês andam de mestres nesses barcos mas não sabem os seus direitos, nem conhecem a sua autoridade como mestres!
Disse-lhe que já sabia tudo o que se tinha passado.
- Amanhã vou contigo para a Terceira, e o que é que eu vou ser a bordo do barco? -
É o Capitão do Porto de Ponta Delgada !
- Sim é verdade e respeito essa tua consideração que agradeço, mas lá dentro quem manda és tu e eu sou apenas um passageiro .
Tudo isto se passou porque o mestre não exerceu sua autoridade participando do agente da Pide.
Como todos sabem quem participasse de um agente da Pide, só arranjava problemas, pois estes procuravam todos os meios para prejudicar, incluindo ser preso por atentar contra a segurança do Estado.
Ao tempo a Pide controlava o movimento nos iates e dos navios de passageiros. Não respeitavam ninguém exorbitando por vezes o exercício das suas funções, com prepotência.
Esta situação não era bem vista pela Autoridade Marítima e mestre Manuel Joaquim ficou sob fogo cruzado.
Acaso ou não, coincidência ou não foi a Marinha quem tomou conta do edifício onde se encontrava instalada a policia Pide, na rua António Maria Cardoso após a revolução do 25 de Abril.
Como curiosidade, um dos elementos da marinha que lá estavam, ao tempo sargento fuzileiro, - Luís Pinto Miranda, posteriormente assumiu o cargo de Delegado marítimo no Cais do Pico, reformando-se com o posto de Capitão de Fragata.

Email do autor: Francisco Medeiros

Email do Leitor: Noélia (Califôrnia)

Titulo: Adorei a sua história do Terra AltaEsta grande rede da internet que nos liga a todos!
Nasci nos Cedros Faial. Sou sobrinha do Padre Rodrigues e vivo na California.
Mais uma vez adoro as suas histórias do seu blog(sic). Obrigada por pôr os seus sentimentos em forma de todos partilharmos.
Noelia (Alvernaz Rodrigues)

Resposta do Autor:
É sempre bom saber que há alguém que nos lê !
Obrigado pela sua mensagem .
Não sei de onde é, mas julgo que conhece, quem foi mestre Manuel Joaquim Neves, que fazia o favor de ser meu amigo, e com quem profissionalmente contactava com muita frequência, ali na Delegação Marítima do Cais do Pico, onde eu trabalhava.
Um abraço!
Francisco Medeiros
diHITT - Notícias

O “PAPA DAS LAJES”

                                                              Artigo de 2003. Autor: Francisco Medeiros
O Padre Nunes da Rosa, teve a sua primeira paróquia na freguesia do Mosteiro na Ilha das Flores de onde veio transferido para a freguesia de seus pais, a freguesia das Bandeiras na Ilha do Pico onde foi pároco e ouvidor eclesiástico da Madalena.
Naquela freguesia fundou com tipografia própria, o jornal “SINOS D’ALDEIA”, no qual tinha uma coluna “Cartas dum Aldeão”, assinadas com o pseudónimo “João Lavrador”.
Numa dessas cartas dizia ele que nos finais do século XIX, vivia no lugar do Morros da freguesia das Lajes das Flores, um octogenário conhecido pelo “Papa das Lajes”, que alcançou nomeada na Ilha tanto pela sua vida mística, como e principalmente pelas suas profecias.
O velho vaticinava: quedas de ministérios, mudanças de governos, catástrofes, tempestades e outras, que assombravam pela sua realização.
Deram-lhe grande fama as profecias anunciadas em 1896, com a morte do Rei D. Carlos, o curto reinado de D. Manuel e a mudança de regimen em Portugal com a saída do país da Rainha D. Amélia acompanhada do seu filho D. Manuel II, que se refugiaram no Iate D. Amélia para o porto de Gibraltar e dali para Inglaterra. Anunciou ainda uma “Grande Guerra na Europa. A primeira grande guerra.
Todos estes vatícinios foram realizados.
Na sua carta o Padre Nunes da Rosa, dizia que nas Flores muitas pessoas conheciam estas profecias do “Papa das Lajes”.
Mas o que o velhote vaticinava era que a “América viria a acabar com a guerra, mas as nações iriam depois guerrear com a América aniquilando o seu poderio”. Terminava a carta dizendo: “Vejamos se se cumpre esta profecia do “Papa das Lajes”, que já há muito dorme o sono eterno”.
Pelo que se está a passar no mundo, onde o direito Internacional, e a justiça passou a ser dominada pelo mais forte, a fome e a miséria serem o sustento de escandalosas ostentações e manifestações de riqueza, vamos lentamente caminhando para a concretização dos vatícinios do “Papa das Lajes”.
Não tenhamos ilusões pois os primeiros passos foram dados, basta aguardar para ver-mos o que vai acontecer.
Muito irão sofrer as jovens gerações durante um período que se aproxima a passos largos, até que a ordem deixe de ser palavra vã e o homem deixe de ser lobo do próprio homem.
Email do autor: Francisco Medeiros
diHITT - Notícias

sábado, 3 de abril de 2010

GENTE QUE FAZ A HISTÓRIA - Padre António Francisco Rodrigues


Autor: Francisco Medeiros
O Padre António Francisco Rodrigues foi Vigário Cooperador da Ouvidoria de São Roque na década de 60 do século passado.
Exercia o seu múnus de sacerdote na Igreja de São Pedro de Alcântara, anexa ao Convento Franciscano no Cais do Pico.
Homem simples de convivência sã, o Padre Rodrigues tinha sempre uma p
alavra de estímulo para todos quantos dele se abeiravam.
As suas práticas na missa, baseadas no conhecimento da vida do dia das pessoas, eram relacionadas com exemplo de vida dos santos, que prendiam a atenção de todos quantos assistiam aos actos de culto.
O Padre Rodrigues foi um grande dinamizador para a juventude do Cais do Pico, onde congregou um numeroso grupo de jovens que aproveitavam os tempos de lazer num movimento de Acção Católica
que funcionava na Casa dos Terceiros, anexa à igreja.
É destes jovens com quem contacto ainda hoje, a ele se referem e o recordam como um homem bom que os ajudou de alguma forma, e deixou um marco nas suas vivências sociais que os tem acompanhado pela vida fora.
Natural do lugar do Cascalho, da freguesia dos Cedros, Ilha do Faial, onde nasceu em 29 de Julho de 1909, era o mais velho de oito irmãos, filhos de Francisco Rodrigues e de Maria de São José Rodrigues. Frequentou a Escola Primária dos Cedros, tendo como professores, Manuel Dionísio, que foi diretor do Museu da Horta e Constantino Magno do Amaral que foi diretor da escola e dos Correio da Horta. Ingressou no Seminário de Angra com a idade de 18 anos e foi ordenado Presbít
ero a 20 de Junho de 1937. Um dos motivos que o levou ao seminário, deve-se ao fato da mãe ter falecido jovem, com 37 anos. Desde cedo ele, como irmão nais velho, tinha de cuidar dos irmãos. Cuidava da casa e aprendeu a fazer pão de milho no forno, tarefa que fazia, como um dos melhores padeiros. Na ilha Terceira foi Pároco na Vila Nova e trabalhou em Santa Barbara e no Pico foi Vigário Cooperador na Madalena, e no Faial, na freguesia da Feteira.
Por razões que desconhecemos, o Padre Rodrigues deixou a Diocese de Angra, embora no tempo se comentassem razões da sua saída do Pico.
Mais tarde soubemos ter emigrado para São Paulo no Brasil, tendo-se fixado na cidade de Piquerobi, Paróquia de São Miguel Arcanjo, criada no dia 8 do mês de Maio de 1945, data que marcou o término da II Guerra Mundial.
O Padre Rodrigues foi empossado por Dom José de Aquino, em 10 de Janeiro de 1965, como Vigário na Igreja Matriz da Paróquia de São Miguel Arcanjo e passou a residir na Casa Paroquial.
Ali continuou o seu múnus de Sacerdote tendo dado um grande impulso à comunidade, trabalhando especialmente com a juventude.
Tendo adoecido, foi internado na Santa Casa de São Paulo, onde veio a falecer em 5 de Maio de 1970. Foi sepultado em Piquerobi, por baixo da sacristia da Igreja Matriz da Paroquia de São Miguel Arcanjo .
Faltou um pouco de caridade a quem a praticou durante uma vida!?

Email do autor: Francisco Medeiros

Email do Leitor:
Esta grande rede da internet que nos liga todos!
Nasci nos Cedros Faial. Sou sobrinha do Padre Rodrigues e vivo na California.
Mais uma vez adoro as suas historias do seu blog. Obrigada por pôr os seus sentimentos em forma de todos partilharmos.
Noelia (Alvernaz Rodrigues)

Resposta do Autor:
É sempre bom saber que há alguém que nos lê !
Obrigado pela sua mensagem .
Não sei de onde é, mas julgo que conhece quem foi mestre Manuel Joaquim Neves, que fazia o favor de ser meu amigo, e com quem profissionalmente contactava com muita frequência, ali na Delegação marítima do Cais do Pico, onde eu trabalhava.
Um abraço
Francisco Medeiros



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