Crônicas, contos e narrativas do passado, de gente que vive na ilha do Pico, ou estão espalhadas pelo mundo e tem muitas estórias para contar. Mande seu conto.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

PADRE ISIDORO DA SILVA ALVES

Autor: Francisco Medeiros
O Padre Missionário Isidoro da Silva Alves nasceu em São Roque do Pico, na Ilha do Pico, nos Açores, em 15 de Janeiro de 1924, era filho de filho de Mariana Augusta da Silva e de Manuel Isidoro Alves Garcia, família de agricultores. 

Criado em ambiente familiar cristão, Isidoro Alves era filho de gente humilde. Após o ensino primário dedica-se à agricultura, no amanho das terras como os seus antepassados mas, sonha como todos os jovens da sua idade, para ele o sonho era um dia vir a ser Sacerdote e Missionário. Um seu tio, Padre Manuel Augusto da Silva, também missionário na Nova Inglaterra terá tido influencia, nesta sua vocação.

Ingressou no seminário de Angra com a idade de 16 anos, não sem algumas dificuldades, pois o ingresso naquela instituição estava limitado a jovens com um máximo de 14 anos.

Os seus estudos decorrem com normalidade mas com dificuldades económicas, sempre que vinha ao Pico em férias, ocupava os seus tempos na agricultura, dando dias p’ra fora, nas vinhas e roças do mato, auferindo ao tempo sete escudos e meio.

O seu aproveitamento como estudante do seminário, chega ao conhecimento de um benfeitor, luso brasileiro, que conhecendo as dificuldades económicas familiares, se presta a concorrer com ajuda financeira, no prosseguimento dos seus estudos.

Confidenciou-me que quando seminarista, foi encontrado num caminho em S. Roque com um molho de pasto às costas, tendo alguém lhe dirigido estranha pergunta !

- Já deixaste o seminário ?

Ordenado padre na Sé de Angra em 1 de Junho de 1952, celebrou Missa Nova em 13 de Julho do mesmo ano na Matriz de São Roque.

Porque o seu espirito de missão o acompanhava sempre, entrou em contacto com o Bispo de Timor, D. Jaime Garcia Goulart, natural da Candelária desta Ilha, em férias no Cais do Pico, desses contactos renasceu o seu desejo de seguir para as missões em terras Timorenses.

Após várias diligencias junto da diocese chega ao Oriente na companhia do Bispo D. Jaime, em 1953 no dia de todos os Santos.

Colocado como  professor do Seminário Menor, em Dare onde esteve 6 anos, logo de inicio teve a preocupação de ver como funcionava toda a vida e sistema interno dos seminaristas, verificando a precariedade da sua alimentação que procurou melhorar. Conseguiu montar uma moagem vinda da Metrópole para moer e como complemento a construção de um forno.

Depois da frustração da primeira fornada, as restantes saldaram-se pelo sucesso tendo mesmo pela Páscoa cozido folares à moda do Pico, com que brindou as missões locais, elementos do Comando Militar, chegando mesmo à mesa do Governador.

Orientou o cultivo de uma granja anexa ao Seminário em proveito dos alunos que ali estudavam, enriquecendo a sua alimentação.

Em 1961 foi Vigário na Missão de Soibada, onde se manteve por algum tempo, tendo regressado a Dili como procurador e administração das missões e secretário particular do Bispo D. Jaime.

Dirigiu uma fábrica de cerâmica, promovendo mão de obra, dando trabalho a tantos necessitados. Com os lucros da vendas dos objectos fabricados foram subsidiadas a construção de três igrejas.

Sugere a D. Jaime para que a Diocese fosse dotada com uma tipografia de que foi seu superintendente.

A Diocese editava uma revista a SEARA, que teve como seu primeiro director o Pe. Ezequiel Enes Pascoal, também Açoreano. Esta Revista era enviada mensalmente por via Aérea para o Ministério do Ultramar em Lisboa.

Era a única tipografia privada da colónia, onde consegue desenvolver uma acção notável: O fabrico de todos os cadernos, escolares, para o seminário e as escolas orientadas pelas missões.

Posteriormente foi cooperador e superior da Missão de Aivaro e Ossu, respectivamente em 1967 e 1974 encontrando-se nesta última quando se deu a descolonização.

A sua tenacidade em crer sempre ajudar os outros, fizeram dele um verdadeiro Missionário polivalente em todas as suas actividades sempre com o espirito de bem servir para minorar as carências dos seus irmãos para que o seu futuro sócio económico fosse mais suave, toda esta acção chegou a merecer reparo de alguns colegas.

Deste facto e para não ferir a hierarquia a que pertencia e sempre respeitou, levou o Padre Isidoro, com toda a transparência com que sempre pautou a sua conduta, a aconselhar-se com o seu prelado que nele tinha depositado toda a confiança, obtendo como resposta:

- Quem anda fás poeira, a poeira incomoda, continua a andar !

É por atitudes destas que os católicos Timorenses que na altura rondavam cerca de 80%, da população de Timor-Leste mais de 400 mil corações, veneravam o seu Bispo, que com eles viveu mais de 30 anos: Que atendia pessoalmente à porta, ao telefone e conduzia ele próprio o seu carro, e dizia, com fina ironia mas, sem malícia, que era provavelmente em todo o muno o único que tinha por porteiro e condutor um Bispo.

Disse-me um Picaroto, em comissão militar em Timor, contemporâneo do Padre Isidoro, que se o conhecimento é cultura, então o “Padre Isidoro é um dos Padres mais cultos da nossa Ilha”.

A sua última missão foi em Ossu quando se deu a descolonização tendo deixado Timor em Agosto de 1975 após mais de 20 anos como Missionário e regressado à Ilha do Pico.

Nesta ilha o Padre Isidoro acumulou as paroquias da Piedade e Ribeirinha, de Santo Amaro e Prainha, duas paróquias em simultâneo. Nesta última freguesia, concorreu para restauro as colunas das naves da Igreja que se encontravam cobertas de cal, o restauro do Salão Paroquial e a construção de uma cozinha anexa.

Curiosamente em Timor o Padre Isidoro, teve como aluno do Seminário um jovem Timorense, filho de um catequista, que chegou à Presidência da mais jovem República do século XXI, Xanana Gusmão a quem alcunhou de, Ibum Mider que em tétum quer dizer, lábios doces, por ser muito comedido e meigo nas suas falas.

A obra Missionária do Padre Isidoro, teve sempre por base a promoção humana ensinando os nativos, a maneira de tirar o melhor partido dos seus recursos naturais, promovendo a sua formação profissional e cultural.

Em 2002, ano do seu falecimento os paroquianos de São Roque do Pico, prestaram significativa homenagem ao Padre Isidoro no aniversario de 50 anos de vida sacerdotal
email do autor Francisco Medeiros

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segunda-feira, 10 de maio de 2010

JOSÉ CARDOSO PINHEIRO - Oficial baleeiro

Autor: Francisco Medeiros
Conheci o José Cardoso, ali no Bairro Mouzinho de Albuquerque na freguesia das Angústias da Ilha do Faial.

Foi uma figura que pela sua simpatia e respeito, no dia a dia, deixou marcas na memória mereceu, de todas as pessoas com quem contatava, no dia a dia, deixou marcas na memória das gentes da freguesia das Angustias.

Como jogador de futebol no Atlético onde brilhava a defesa central, foi uma referência, não só pelo amor à camisola como, apesar de ser um homem forte, era muito disciplinado dentro do campo.
Foi por sua influencia que fui pela primeira vez à baleia com 17 anos, era ele trancador de baleia. Na caça à baleia era um grande entusiasta recordo-me a primeira vez que arreei à baleia ali para fora dos Capelinhos - é quase sempre a primeira vez que nos fica na memória por se tratar de uma novidade - perseguíamos um cardume de 7 baleias, o José Cardoso com o desejo de se aproximar do cardume, dava indicações, aos remadores, puxando por eles chamando-lhes nomes de forma zangada mas dando o exemplo pelo esforço que despendia naquelas ocasiões.

Depois da baleia trancada, morta e amarrada pronta para ser rebocada, parecia uma criança com a satisfação estampada no rosto. elogiando o nosso trabalho. Fizemos outras arriadas, o José Cardoso era igual a si próprio, tudo o que fazia, era sempre com empenho, dedicação e espirito de equipa.

Recordo o José Cardoso, fazendo par com o Manuel Teixeira Semilhas este também jogador do Atlético, nas descargas de carvão a bordo dos cargueiros despejando aqueles grandes baldes cheios de carvão para os balelões amarrados à borda.

Era um homem de porte atlético. Recordo-me que ali em frente ao armazém de carvão da Fayal Cool, em frente ao canto da lado da Terra, havia um grande número de correntes gatas e ancoras destinadas à fixação das bóias de amarração de navios no interior do Porto da Horta. Á hora do almoço e quando estava bom tempo o José Cardoso, o mestre António Canequinha, o Carlos Eugênio e muitos outros entretinham-se a levantar a haste de uma das gatas, proeza que só o José Cardoso e o Canequinha o faziam com facilidade, apesar deste ser de pequena estatura, levantando-a até à cintura os outros, alguns, nem a suspendiam do chão. Certo dia o José Cardoso com a genica que se lhe conhecia levantou a gata quase até ao peito, ficando os outros de boca aberta. Outra dêle! Havia no Capelo um oficial baleeiro de nome Luisinho, de pequena estatura, mas um bom profissional, muito amigo do José Cardoso. Certo dia numa taberna das Angústias, ali ao lado da Igreja, o José Cardoso convida-o para tomar um copo, e quando lá chegaram o José Cardoso forte como era, pegou-o só com uma mão e sentou-o em cima do balcão.
Foi uma época que desapareceu, do nosso quotidiano, quase todos os marítimos viviam com um certo desafogo, enquanto durou a II Guerra e pouco mais. Depois foi a debandada provocada pelo Vulcão dos Capelinhos que mudou o Faial e mudaram-se as gentes. Foram-se os baleeiros e com eles todos os marítimos que davam uma certa vida ao Porto da Horta, resta-nos a recordação.

O José Cardoso, como não podia deixar de ser, foi também um dos que emigrou na década de sessenta até à Costa Leste dos Estados Unidos aonde viveu até ao ano de 2003.
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