Crônicas, contos e narrativas do passado, de gente que vive na ilha do Pico, ou estão espalhadas pelo mundo e tem muitas estórias para contar. Mande seu conto.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Publicação de Contos da Ilha-Maior

Os leitores estão perguntando se podem publicar seus contos, suas estórias. Fiquem à vontade!
Para isso, mandem seus contos e uma foto pessoal. Fotos inerentes à narrativa serão indexadas.
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A MULHER DO PICO




Autor: Francisco Medeiros

A Mulher do Pico é a herdeira viva das mulheres que um dia aportaram a esta Ilha, há mais de 500 anos, para apoiar os seus companheiros.
Sempre animadas e cheias de fé, com o suor do seu rosto vergadas por vulcões, suportando todas as calamidades, ajudaram a transformar estas pedras negras em pão e garantiram a continuidade e o bem-estar daqueles que hoje vivem à volta da sua montanha.
Pode dizer-se que a Mulher do Pico foi aquela que ao longo dos séculos se moldou à natureza e características vulcânicas, da própria ilha.
Como mulher, esposa e mãe, trilogia que foi cumprida durante todas a etapas da sua vida, a Mulher do Pico, nunca desanimou e foi a base de sustentação do maior pilar do Mundo, a família.
A par com o homem na labuta do dia-a-dia, a Mulher do Pico percorreu milhares de quilómetros por veredas irregulares, entre currais de vinha e figueiras, cestos de uva e selhas à cabeça, qual bailarina, com o seu passo elegante, num palco imaginário tendo como cenário a montanha do Pico
Pote de água à cabeça, cesto de vimes com roupa no braço, lá ia ela a caminho da costa, onde lavava, enxugava e corava a roupa por cima das pedras negras e, de regresso a casa, trazia água dos poços de maré para os usos domésticos.
Desde os princípios do povoamento procura no mato a lenha com que coze os alimentos, faz o pão de cada dia e acende a lareira que aquece o lar nas noites invernosas.
A Mulher do Pico não tinha tempos livres: Usa o Tear para confeccionar o vestuário e agasalhos para toda a família. Tudo era aproveitado. Não existia trapo a que não fosse dado qualquer uso.
Quantas voltas dariam ao Pico os novelos de lã de ovelha transformados em meias e em peças de vestuário e os fios de linha transformados em peças de renda de rara beleza, pacientemente elaborados pela noite dentro, à luz da candeia?
Eram elas em casa que ensinavam aos seus filhos os Dons da Natureza, os bons costumes, o respeito pelos outros, incutindo-lhes ânimo e confiança sem medos.
Quantos dias e noites de angústia pois as carências eram tantas, para que os seus meninos dessem os primeiros passos na Ilha, mas também de muitas alegrias, ajudando-os a crescer, fortalecidos na harmonia de um lar sem complicações, na infância e juventude e, tornados adultos, cumprissem a sua missão como cidadãos do Mundo.
Muitas foram as limitações que superaram, que hoje, a séculos de distância, a memória dos homens não pode imaginar!
Hoje há de tudo, é mesmo ali ao lado e quem não quiser por o pé fora de portas, vem-lhes ter tudo a casa, mesmo aquilo que não presta e excede as nossas necessidades.
Vila de São Roque do Pico
Um Bom Ano
Janeiro 2010

xatinha@sapo.


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NATAL E SOLIDARIEDADE




Autor: Francisco Medeiros


O Natal do nosso tempo, do tempo em que éramos jovens, é sempre recordado com saudade e nostalgia, da forma como era festejado com os nossos familiares.
O Natal é sempre o mesmo, só difere na forma de o festejar. Vai mudando conforme a idade de cada um e evoluindo com as mudanças sociais, com o aparecimento de novas técnicas que a ciência vai descobrindo.
As prendas e presentes de Natal à disposição das pessoas, que vemos e ouvimos na televisão, são tão variados e sofisticados que, pelos seus custos, em tempos idos seriam impensável adquirir. Apesar da crise económica, de que se ouve falar todos os dias, as queixas dos estabelecimentos comerciais são mínimas!
Hoje é difícil imaginar o que será o Natal daqui a 50 anos, mas sabemos como era o Natal da nossa juventude, há mais de 50 anos atrás. Embora com muitas carências de todo o tipo, era festejado com muito mais alegria e muito amor familiar.
Desde o principio dos meus verdes anos tenho festejado o Natal, conforme as circunstâncias familiares o permitem, mas tenho sempre presente os ensinamentos de que o Natal é a festa comemorativa do Nascimento de Jesus.
Há muita gente que não sabe porque é que esta quadra se chama Natal. Muitos dizem que é a festa da família, que se comemora o nascimento de Jesus. Outros, que é o dia da consoada, o dia das prendas e ofertas. Até é possível que na nossa terra, haja gente que pode não saber porque que é que esta quadra se chama a quadra de Natal.
Embora a história não explique tudo, duma coisa temos a certeza: Há mais de dois mil anos um casal cuja Senhora estava para dar à luz uma Criança não teve lugar nas hospedarias, porque na cidade havia um recenseamento da população e as hospedarias estavam cheias. José, o marido, procurou uma casa mais recatada, uma casa como as nossas muito antigas, talvez com vacas por baixo! Foi ai que nasceu Jesus.

E se o Jesus Cristo nascesse hoje?
Será que havia lugar para ele ? Se não há lugar no hotel haverá numa residencial ou numa casa particular que aluga quartos? Talvez numa atafona?
Não, talvez não houvesse nada disso!
Porque a mensagem que ele trouxe, é uma mensagem que ensina a amar, a dar a mão, a ajudar, a cooperação, a repartir os bens deste mundo. Uma mensagem incómoda que contraria aos interesses de uma classe, que se instalou e teima em viver à custa do seu semelhante.
Neste mundo há milhões de seres humanos que nesta quadra de Natal, não sabem o que vão comer, se é que vão comer alguma coisa. Há milhares de refugiados por esse mundo fora escorraçados da sua própria terra, seres humanos, homens, mulheres e crianças, à espera da morte, não vivem, vão passando o tempo até que a morte os liberte. O único crime que cometeram foi terem nascido!
Há ainda muitos outros, possivelmente muito próximos de nós, cujo sofrimento merece a nossa atenção.
Sejamos solidários com eles, porque se o Menino Jesus não tem lugar neste Mundo, de certeza que terá lugar no coração de cada um de nós.
A todos os leitores, e aos que dão vida a este jornal, de semana a semana para que veja a luz do dia, vão os meus votos de muita saúde e um Santo Natal com muita alegria.
Natal de 2009

xatinha@sapo.pt


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