Crônicas, contos e narrativas do passado, de gente que vive na ilha do Pico, ou estão espalhadas pelo mundo e tem muitas estórias para contar. Mande seu conto.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

EXPORTAÇÃO DE AZEITE DE BALEIA E A TÁBUA QUE VOOU!


Autor: Francisco Medeiros
A caça à baleia nos Açores começou na segunda metade do século XVIII, sob a influência das baleeiras inglesas e americanas, que demandavam as baías e os portos das Ilhas dos Açores, para se abrigarem, abastecer-se da víveres ou descanso das tripulações.
O capitão geral dos Açores, em 1768, informou o governo da presença no arquipélago de 200 embarcações (Botes Baleeiros) que teriam obtido 800 contos em azeite de cachalote espermacete e algum âmbar.
Em 1760, na Nova Inglaterra, as baleeiros não conseguiam fornecer às fábricas esperma
cete suficiente para satisfazer a procura, e o preço do azeite de baleia elevou-se, pela primeira vez em 1864. Os preços subiram acima dos100 dólares por barril.
Esta importância era aliciante, o que levou os homens do mar a organizarem-se em armações em alguns portos Açoreanos, onde era mais frequente a passagem dos cardumes de cachalotes.
Uma Lei Régia de D. Luís, datada de 26 de Maio de 1862, finalmente veio incentivar a caça à baleia, isentando de impostos e imposições marítimas durante 10 anos aquele actividade em portos nacionais.
A Caça à baleia teve grande relevo na economia das populações de algumas ilhas, que a ela se dedicavam, bem como no comércio das localidades onde se situavam as estações baleeiras. O Inquérito I
ndustrial da Pesca, datado de 1889, dava conta da sua existência no Arquipélago dos Açores de inúmeros baleeiros.
No inicio o azeite de baleia era produzido em grandes caldeiros a lume directo, nos portos onde se situavam as estações baleeiras .
Nos anos quarenta e cinquenta do século XX foram construídas fábricas apetrechadas com autoclaves, que além da extracção de óleo de melhor qualidade (menor grau de acidez), faziam o aproveitamento quase total dos cachalotes, incluindo farinhas de carne e ossos e extracção de vitaminas dos fígados.
O azeite de baleia tinha muitas e variadas aplicações: Iluminação pública e particular, lubrificante de máquinas, industria farmacêutica, tintas, calafeto de embarcações, curtumes para calçado, indústria de sabões e outras. No pátio do Museu Anchieta, em São Paulo, no Brasil, h
á uma parede histórica de quase 500 anos, feita de barro e óleo de baleia pelo padre Afonso Brás.
Mais recentemente, óleo de baleia foi usado na exploração espacial. Descobriu-se que o óleo de espermacete não congela, mesmo em temperaturas muito baixas, reage bem a altas temperaturas e não se degrada facilmente, tornando-o num lubrificante ideal para equipamentos lançados ao espaço.
O condicionamento do óleo de baleia para exportação, a partir dos Açores, passou por três
fazes distintas: Inicialmente exportação em barris de madeira, depois em bibons de ferro e por último a granel em navios/tanque.
A primeira foi a mais difícil. Havia que contratar localmente tanoeiros para o fabrico de barris e não havia muitos.
Aqui no Cais do Pico fabricaram-se muitos barris destinados à exportação de azeite de baleia, outros eram adquiridos por essas ilhas fora.
Na Praceta dos baleeiros, ao lado de um poço de maré, onde funcionou a oficina das Armações Baleeiras Reunidas do Cais do Pico, havia uma moagem tocada por força motriz, à qual foi adicionado um volante, que por sua vez fazia mover uma serra circular para serrar madeira para fabrico de barris. Esta tarefa esteve, por algum tempo, a cargo de Manuel José da Silveira, mais conhecido por mestre Janeiro e um seu ajudante Gabriel Vieira Maciel, conhecido por
Gabriel da Ricardina, que também exerceu a caça à baleia na qualidade de maquinista.
Certo dia estavam a serrar madeira de incenso e mestre Janeiro, que gostava de fazer as suas experiências, disse ao Gabriel:
- Vamos serrar esta tábua de suta para pouparmos trabalho!
Mestre Janeiro dá-lhe uma pequena inclinação, mete a tábua na serra e esta atira a tábua até ao teto!
Ficaram a olhar um para o outro, como quem diz, se ela apanha um de nós, não sei o que seria!?
Mestre Janeiro que punha o seu brio em tudo o que fazia disse para o Gabriel:
- Ó Gabriel, isto não se diz a ninguém !
Não disse, mas soube-se !
Email do Autor
xatinha@sapo.pt


Comentários recebidos por email:


Data: 13/2/2010 11:35:45 - Roger Dias - Ontário - Canadá
Olá Senhor Goulart!
Sou Faialense ausente no Canadá há 43 anos. Adoro sempre ler artigos antigos e recentes do Faial, embora nao tenha muita experiência de escrever. Mas um dia destes irei partilhar algumas histórias, "para que o amigo Francisco Medeiros, as ponha em papel", pois quanto a este site, sinceramente, estou a gostar imenso, até me da vontade de imprimir tudo o que aqui está. Muito, muito obrigado, pela sua iniciativa.
Bem, haja e continue . (sic)
Cá de longe ADORAMOS
Roger Dias
Ontario
Canadá

diHITT - Notícias