Crônicas, contos e narrativas do passado, de gente que vive na ilha do Pico, ou estão espalhadas pelo mundo e tem muitas estórias para contar. Mande seu conto.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

EMIGRANTE PICAROTA ATINGE 109 ANOS EM TERRAS DA CALIFORNIA

Por Francisco Medeiros
Chama-se Júlia Espírito Santo Machado da Rosa, completou no passado dia 27 de Janeiro 109 anos de idade.


Nascida no Lugar do Campo Raso da freguesia da Candelária Concelho da Madalena Ilha do Pico – Açores, é possivelmente a mais idosa Portuguesa, hoje viva, imigrante nos Estados Unidos da América do Norte e talvez em todo o Mundo.


Júlia do Espírito Santo, emigrou, com a idade de 20 anos, acompanhada de um tio, António Machado irmão do pai já imigrante naquele estado, tendo embarcado no navio “Britania” no Porto de Horta em 25 de Setembro de 1922 directamente para os Estados Unidos.


Júlia do Espírito Santo, casou na Califórnia com José da Rosa, natural do mesmo lugar e freguesia também emigrado para a Califórnia que faleceu em 1973 com 78 anos de idade. Carpinteiro de profissão dedicava-se à construção de habitações em madeira, tendo ele próprio construído a casa onde a esposa reside actualmente com uma neta. Do casal nasceram um rapaz já falecido e uma rapariga que ainda se encontra viva.


Júlia do Espírito Santo Machado da Rosa, trabalha todo o dia, dedica-se à confecção de colchas em lã que vende. É completamente autónoma na sua higiene pessoal. Tem um hábito que é beber durante o dia 3 ou 4 chávenas de café descafeinado que acompanha com uma bebida alcoólica.


Era filha Felicidade do Espírito Santo, falecida em 1963 com 90 anos de idade e de Manuel Rodrigues Machado, falecido em 1937, com 88 anos de idade, casados em 23 de Janeiro de 1896.


Júlia do Espírito Santo Machado da Rosa, tinha mais cinco irmãos e duas irmãs, já todos falecidos, tendo naquela freguesia muitos sobrinhos.


A freguesia da Candelária foi uma das freguesias do Pico onde a população mais recorreu à emigração, para todas as partes do Mundo.


Segundo uma nota de José Carlos Costa no seu livro “A Viagem do Basalto” (2007), entre 1859 a 1979 emigraram daquela freguesia 866 Homens e 784 Mulheres, sem contar com aqueles que emigraram clandestinamente nas baleeiras, duas vezes a população residente naquela freguesia em 2006.


Desde o inicio do povoamento das Ilhas e na Ilha do Pico em especial, pela natureza dos solos agravada pela existência dos “mistérios”saídos dos vulcões, o crescente aumento da população residente nos núcleos habitacionais, movimentava-se à procura de melhores locais onde os solos eram propícios a extracção dos bens da terra. A Freguesia da candelária era uma das mais pobres em solos.


A Gente do Pico sempre viveu da agricultura e da pesca com todas as consequências e carência de bens essenciais à sua sobrevivência.


A Falta de caminhos de comunicação obrigava as populações a deslocarem-se na mesma Ilha por mar em embarcações de pesca, a remos e à vela, que simultaneamente eram utilizadas, para o transportes de pessoas e bens.


Era através destes contactos populacionais, efectuados com tempo de feição e nos meses de Verão, que se foram desenvolvendo os lugares e nestes, com aumento da população, foram surgindo as freguesias.


Com decorrer dos anos, a abertura de caminhos e estradas e a evolução dos meios de transportes para o exterior, a vida social e económica dos Açorianos, foi-se modificando, e a expansão de umas ilhas para outras, foi melhorando as condições de sobrevivência das populações.


A apetência da emigração Açoriana para fora do Arquipélago caracterizou-se histórica e instintivamente, com as deslocações frequentes das populações de umas Ilhas para outras. O início da emigração remonta ao século XVII, tendo como destinos: O Sul do Brasil, a emigração de casais, 50 famílias constituídas por 219 pessoas que embarcaram, no dia 29 de Março de 1677, no barco “Jesus Maria e José” na Horta, Ilha de Faial.


Em 1847, saíram do Arquipélago cerca de seis mil pessoas para São Paulo e Rio de Janeiro.


Mas só em meados do século XIX princípios do século XX é que se deu a maior abundância de emigração para os Estados Unidos que se prolongou até aos nossos dias.


O Canadá foi o último destino de emigração de açorianos, com relevância para os residentes nas Ilhas do Faial e do Pico, após o Vulcão dos Capelinhos em 1957, com a assinatura de acordos entre Portugal e o Canadá. Apesar de esta ser uma emigração muito recente, o número de açorianos que emigraram foi elevado.


Verificamos que entre l960 e o Ano 2000, terão emigrado de todo o Arquipélago do Açores, 81.470 pessoas e para o Estado Unidos e 77.597 para o Canadá, perfazendo um total de 159.067 pessoas.


As Bermudas, o Hawaii e a França na Europa, foram outros destinos de emigrantes deste arquipélago onde as condições de trabalho eram favoráveis, mas não tiveram grande expressão, por diversos condicionalismos.


De qualquer das maneiras há Açorianos em toda a parta do Mundo, podemos constata-lo pelo diário de bordo do “Hemingway”, escrito por Genuíno Madruga na sua 2ª viagem à volta do Mundo.


S. Roque do Pico


Fevereiro de 2011


xatinha@sapo.pt