Crônicas, contos e narrativas do passado, de gente que vive na ilha do Pico, ou estão espalhadas pelo mundo e tem muitas estórias para contar. Mande seu conto.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

D. Jaime Garcia Goulart - O bispo, o picaroto, o português.

Autor: Francisco Medeiros
São muito os Picarotos que a partir desta Ilha, por esse Mundo se notabilizaram, alguns não regressaram para aqui acabar os seus dias, mas muitos outros voltaram à Terra que os viu nascer.
Formam uma plêiade de valores, que nos honram e projectaram a Ilha, os Açores e Portugal, pelas cinco partes do Mundo.
Está neste caso o D. Jaime Garcia Goulart, Bispo de Timor, nascido na freguesia da Candelária, Concelho da Madalena, Ilha do Pico, Arquipélago dos Açores, a 10 de Janeiro de 1908 e falecido em Ponta Delgada, em 15 de Abril de 1997.
Sobre a sua vida como prelado da Igreja Católica, já muitos tem conhecimento da sua conduta, honradez e rectidão de princípios, sempre ao serviço dos outros.
Há, no entanto, episódios da sua vida como prelado, não de todos conhecidos, que evidenciam, a sua coragem, honradez, e firmeza de carácter, que o acompanhou durante a sua longa vida.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a província de Timor foi quase trucidada pela invasão e ocupação por tropas Japonesas. Durante aquela ocupação, na missão de Ossuem em 1942, um militar australiano foi gravemente ferido numa escaramuça provocada pelas forças japonesas.
Conhecendo a gravidade da situação, o então Padre Jaime, Administrador Apostólico, sem qualquer medo, transporta-o no seu próprio carro para local onde pudesse receber os primeiros tratamentos.
Os homens do Pico agigantam-se como a muralha de pedra que lhes deu berço, para enfrentar situações com o risco da própria vida.
 Esta tomada de atitude inspirada apenas por um acto humano, chegou ao conhecimento dos comandos japoneses que procuraram o Padre encostam-no à parede apontando-lhe uma arma ao peito… O Prelado mantêm-se firme e sereno, afirmando que faria o mesmo a qualquer outro necessitado de socorro, fosse japonês ou australiano. Os japoneses suspenderam o acto, acabando por desistir sem mais uma palavra.
Numerosos timorenses refugiados, acompanhados do clero de Timor foram recebidos na Austrália, na cidade de Armidal, New South Wales, durante a ocupação japonesa, onde passaram as primeiras semanas num acampamento militar abandonado. O Padre Jaime torna-se num refugiado como os outros não se poupando aos trabalhos da comunidade, incluindo pegar numa vassoura para varrer o chão, junto com os seus irmãos.
Durante a ocupação de Timor pelas tropas japonesas de Dezembro de 1941 a 12 de Dezembro de 1942 e o desenrolar das acções pelas forças aliadas naquela província Portuguesa de Timor para a desalojar os japoneses do referido território, a Santa Sé pediu ao Padre Jaime um relatório detalhado dos acontecimentos, durante aquele período.
Quando o relatório chegou ao Vaticano o Cardeal Secretário, após a leitura do tão esperado documento, disse: -Temos aqui um Bispo e um diplomata!
Estava encontrado o primeiro Bispo para a Diocese de Díli, cuja eleição ocorreu a 12 de Outubro de 1945.
Na primeira sessão do Concilio do Vaticano II, em Roma, um prelado de Timor Indonésio, abordou D. Jaime sobre as vantagens da união das duas metades de Timor, a favor de Indonésia. A reacção do Bispo D. Jaime foi enérgica perante a insinuação do prelado Indonésio, tendo informado o governo dos planos expansionistas de Jacarta.
Os primeiros boatos de uma invasão a Timor Leste por forças indonésias leva, o Governador Oscar Ruas convocar o conselho de governo da província, em Março de 1950, no qual é convidado para estar presente, o Bispo D. Jaime. Durante a reunião, discutia-se uma possível incursão das nossas forças no território de Timor Indonésio. Solicitando emitir a sua opinião, D. Jaime disse: É muito grave e cheio de riscos imprevisíveis qualquer tentativa de incursão das forças portuguesas no território vizinho. É mais avisado a defesa pura e simples do nosso território sem sairmos dos limites do Timor Português. Com esta opinião, unânimemente perfilhada pelos presentes, evitou-se assim uma invasão armada indonésia no território de Timor.
Quando O Bispo D. Jaime chegou a Timor vindo do seu refúgio na Austrália, por todo o lado, a catedral, os templos, as residências missionarias, os colégios, os internatos e escolas, estava tudo em ruínas pelos bombardeamentos japoneses e aliados durante a guerra.
Da população católica da Província tinham sido feitas milhares de vítimas, entre as quais, missionários, professores e catequistas. A população católica de Timor Leste estava reduzida a 30 000 numa área missionária de 19.000 Km2.
Durante uns curtos quatro anos D. Jaime, consegue reconstruir templos, construir novas escolas, entre as quais uma para formação de professores.
Desenvolve uma actividade socioeconómica entre a população, com uma fábrica de telha e tijolos dirigida por um engenheiro chinês e institui uma experiencia,, com uma cooperativa agrícola. Dotou ainda Diocese com a única tipografia privada da colónia onde mandou imprimir, entre outros, um caderno com vocabulário Português-Tétum e Tétum-Português, com cerca de 500 vocábulos e uma revista informativa mensal, a “Seara”. Até no desporto D. Jaime sempre atento às necessidades da população incentiva e apoia a fundação de um clube desportivo a União, para a prática de futebol.
Estavam dados os primeiros passos para a continuidade e evolução de Timor Leste, onde o Bispo D. Jaime Garcia Goulart permaneceu até 28 Janeiro de 1967, data em que deixou Timor, após 30 anos ao serviço daquela comunidade, com uma população superior a 400.000 mil habitantes mais de 80% católicos.
Vila de São Roque do Pico
Junho de 2011
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