Crônicas, contos e narrativas do passado, de gente que vive na ilha do Pico, ou estão espalhadas pelo mundo e tem muitas estórias para contar. Mande seu conto.

domingo, 20 de novembro de 2011

OS TRANPORTES MAIS CAROS DO MUNDO E FALTA DE ESTRUTURAS NOS PORTOS


Autor: Francisco Medeiros

No final do mês de Setembro, mais precisamente no dia 26, pretendi deslocar-me da Terceira para o Pico, acompanhado de minha mulher, no voo Sata das 16:55 horas. Como estavam previstos fortes aguaceiros, inclusive à chegada ao Pico, preferia viajar de avião, por ser mais rápido e com a vantagem de ter garantidos, resguardos à saída e chegada, em vez de viajar no navio da Atlanticoline, como esta previsto inicialmente.

Cerca das 10:00 horas disquei o número para a loja de vendas da Sata mas, depois de várias tentativas, do outro lado da linha ninguém me atendeu! Possivelmente por terem fechado a loja! Tive a tentação de comunicar com um amigo que mora em Angra, ali perto, para ir lá fazer a marcação ou ver se estava alguém na loja, nem que fosse chegar junto à porta, ver um cartão muito em uso, VOLTO JÁ, nas lojas onde só há um único trabalhador.

Procurei outro número o 707227282, reservas e vendas. Pensei cá comigo, este número não parece das redes telefónicas dos Açores! Não estava em causa o custo da chamada mas sim a compra de duas passagens, para dois adultos. Disquei o número e qual não foi a minha satisfação, pela rapidez do atendimento. Do outro lado, ouço a voz de um homem a dar-me as boas vindas, em Português e depois a voz de uma mulher em Inglês. Imagine que até me perguntou se era cliente da Sata? Pois não conheço outra empresa a operar nos Açores! Mas eu estava completamente enganado. Era um atendedor de Chamadas. Indicou-me uma série de números que eu devia marcar no telefone, conforme o serviço que pretendia, a sua chamada vai ser atendida dentro de momentos! Depois voltou à cantilena anterior e eu estive para ali dependurado até que, quando estava para desistir, aparece a voz de uma funcionária, por sinal muito simpática, que finalmente me atendeu!
A marcação de passagens por aquele número não está acessível a todos os Açorianos, que utilizam os transportes aéreos no Arquipélago, pois uma grande parte não consegue marcar passagem por aquele sistema, só numa das lojas de vendas de passagens ou nos aeroportos!
Porque é que não põe um/a telefonista com presença física a atender chamadas e a encaminha-las para os diversos serviços. Olhem que não é muito caro, há muita gente desempregada que com o ordenado mínimo nacional 475,00€ formariam bicha para o concurso. Não era preciso aumentar o orçamento da empresa bastaria tirar aquela importância ao que dão a algum quadro superior do conselho de administração!
Quando do outro lado me atenderam, disse o que pretendia: Que não. Não havia passagens, o voo Terceira/Pico já estava cheio, só se quisesse ficar em lista de espera, mas para o dia seguinte tinha lugar etc…etc…à mesma hora. Que o custo de cada passagem era de (81 euros) Oitenta e um euros (16.200$00) dezasseis mil e duzentos escudos, mais não sei quanto....
Fazendo as contas por alto multiplicado por 60 passageiros, segundo a capacidade do avião, dá a módica quantia de (972.000$00), novecentos e setenta e dois mil escudos. Bom frete. Num percurso de cerca de 60 milhas com a duração de cerca de 30 minutos. Com mais uns pozinhos, dos que vinham de Ponta delgada, possivelmente rondariam o milhão de escudos?

Com 81,00€ euros compra-se uma passagem Sata Terceira-Pico. Apenas com 24 euros consegue-se comprar uma passagem Lisboa-Londres. Alguém me consegue explicar tão grande diferença? Será que os açorianos são mais tolerantes que os outros?

Naquele dia 26 tinha saído o navio de passageiros da Atlânticoline, de Ponta Delgada até à Horta.

Veio-me à memória a Agenda marítima da R.D.P. Açores , dos anos 50, em que o locutor Vitor Cruz noticiava: - Com escala para as Ilhas de Baixo saiu esta manhã do Porto de Ponta delgada, Paquete  Carvalho Araújo. Bons tempos, pelo menos havia navios de passageiros com escalas regulares todo o ano e em todas as Ilhas desde Santa Maria ao Corvo.

Sem outra alternativa, munido de uma passagem que me tinha custado 12,00€.ida e volta, embarquei naquele navio. Ao chegar a bordo verifiquei que possivelmente não tinha nem metade da sua lotação! Como é que havia tanta gente para encher um voo Terceira Pico, naquele dia 26?

Ainda gostava de saber quantas pessoas embarcaram na Terceira com destino ao Pico, no dia 26. Até era possível o voo estar cheio. Cheio com aqueles passageiros que, embora não queiram viajar nos transportes mais caros do mundo, estão presos pelo queixo, se não, não chegam a lado nenhum: - E é se queres, ou vai a nado! São os que vem das ligações com outros voos, que chegam ao destino e, por vezes as malas teimam em não acompanha-los. Que ficam a secar, pelos aeroportos à espera do voo, que vão aos restaurantes e utilizam o os transportes terrestres, dando um ar cosmopolita às capitais de Distrito.
Distritos que no aspecto socioeconómico continuam a existir, quando o governo se prepara para acabar com os Distritos no continente que, como disse um político comentador de TV: Não servem para nada, só servem para passar umas licenças a estabelecimentos comerciais. Só tem arruinado o erário Público e, os estabelecimentos comerciais têm acabado na falência?

Como estava previsto a situação meteorológica, não falhou! Pouco depois de o navio atracar, cerca das 22.00 horas e logo após os passageiros e as respectivas bagagens terem saído na rampa de lançamento do navio, que por sinal oferece um rápido embarque e desembarque dos passageiros, veio um forte aguaceiro que encharcou todos os passageiros. Parecia um pandemónio. Toda aquela gente, encharcada, à procura das suas bagagens que apesar de cobertas, no carro que as transportou para o cais acabaram por ficar todas alagadas!
De onde os passageiros desembarcam até alcançarem os transportes, são umas dezenas de metros e enquanto não se fizerem instalações convenientes para apoio ao embarque e desembarque de passageiros nos portos dos Arquipélago, vamos continuar a ficar ensopados, com todas as consequências para a saúde das pessoas, que possam advir.

O que ali se passou poderia ter sido evitado com um abrigo para passageiros construído com uns pilares e uma placa em betão armado apoiada no muro de cortina de brigo ao molhe! O piso, em S. Roque do Pico, tem 25 metros de largura e nos outros portos a largura é sensivelmente a mesma ou mais e o abrigo não prejudicaria as operações de carga.

Esta carência existe em todos os portos de escala dos navios de passageiros: Na Praia da Vitoria, na Praia da Graciosa, nas Velas, em São que do Pico, na Horta e Lajes das Flores. Possivelmente o mesmo não acontece em Ponta Delgada, nas tão faladas portas do mar que não conheço pois nunca lá estive.
Em S. Roque do Pico e na Praia de Vitória foram inaugurados uns pequenos edifícios onde vendem bilhetes – chamam aquilo gares marítimas? Estas instalações, têm muito que se lhes diga quando chove, pela incomportável capacidade, para passageiros e bagagens.
É que para vender bilhetes bastava uma barraca igual à que o Júlio Marcos vendia bilhetes, há mais de sessenta anos no Porto da Madalena.
Vila de São Roque do Pico
Setembro 26

- Nota do WebMaster: Incrivel! Aqui no Brasil é mesma coisa. Vamos competir pela melhor incompetência e pelos custos mais altos do mundo.
Emanuel David Avelar Goulart

Carta de Leitores


Caro Sr. Francisco Medeiros,
Gostaria, em primeiro lugar, de felicitar-lhe pela interessante recolha e compilação de informação sobre a história dos Açores, transmitida nas excelentes narrativas que tem publicado no blog “À sombra do Vulcão”. Como membro do Observatório do Mar dos Açores (OMA), na Fábrica da Baleia de Porto Pim, tenho desenvolvido nos últimos meses investigação sobre a história da baleação açoriana, centrando-me em particular nas ilhas do Faial e do Pico. Actualmente, sou um dos responsáveis pelo projecto museográfico de recuperação da antiga Casa dos Botes do Porto do Comprido, que tem vindo a desenvolver-se desde Março de 2011 e prevê-se estar concluído no final do ano. A antiga casa dos Botes albergará uma exposição permanente que explicará as origens do porto do Comprido e a sua importância como posto baleeiro.
Muito obrigado, com os melhores cumprimentos

Francisco Henriques – Ilha do Faial Açores