Crônicas, contos e narrativas do passado, de gente que vive na ilha do Pico, ou estão espalhadas pelo mundo e tem muitas estórias para contar. Mande seu conto.

sábado, 10 de dezembro de 2011

CINQUENTA ANOS DE INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS

 Autor: Francisco Medeiros
Os Picarotos são por natureza um povo pacífico, que ao longo dos séculos nunca teve tempo para reivindicar direitos, que teimosamente lhes vão fugindo, nem se envolveu em actos menos aconselháveis, que pusessem em causa a sua honestidade e rectidão de princípios.
 Quem chegou a uma ilha com pedra por todos os lados e continuou corajosamente sem desistir, conseguindo sobreviver, prerrogativa de Homens de rija têmpera e ânimo, que ao longo dos anos foi moldando o seu carácter de sã convivência com os seus irmãos.
A gente do Pico é pacífica desde do seu povoamento e, sempre que foi confrontada com adversidades de vária ordem, soube sempre dar a volta por cima, não só quando as calamidades assolavam a ilha mas também quando eram explorados e saqueados por gente sem escrúpulos, em deferentes épocas.
Até aos nossos dias, muitas iniciativas económicas, algumas estranhas ao Pico, tiveram e tem nesta Ilha a fonte dos seus rendimentos, que vão dividindo com os naturais da Ilha.
Sempre assim foi desde épocas remotas: Nos vinhos, nas aguardentes, no óleo de baleia, na exportação de gado, na pesca, na construção naval,  exportação de madeiras e  sobretudo as remeças em dinheiro dos emigrantes pesavam  nas economias familiares. 
A partir da segunda metade do século XX a população do Pico sofreu uma grande transformação no viver das suas gentes. Foi o Vulcão do Capelinhos em 1957 que provocou uma onde de emigração de centenas de Picarotos. Os sismos de 1973 e 1998 que destruíram muitos lares, em várias freguesias da Ilha mas, apesar da situação calamitosa porque passaram muitas famílias, os planos de reconstrução das habitações vieram melhorar as condições de habitabilidade daquelas populações.
Com a revolução do 25 de Abril em 1974 e a consequente mudança do sistema governativo, fizeram-se grandes melhoramentos e investimentos, em pequenos portos da Ilha, a construção do porto comercial em S. Roque, o porto de Madalena e o aeroporto do Pico.
Procedeu-se à reconstrução e melhoramentos de alguns troços da Estrada Regional em toda a volta da Ilha. Construiu-se a estrada transversal e longitudinal do Pico. Abriram-se centenas de quilómetros de caminhos florestais e em consequência a agropecuária sofreu uma profunda transformação com os investimentos públicos e privados.
Todo o comércio da Ilha se modernizou com o aparecimento de novos produtos, ferramentas, materiais de construção e foram instalados supermercados.
Os Municípios sofreram grandes transformações, vieram para a rua, abriram arruamentos, as ruas andam limpas, procedeu-se há instalação domiciliária de água. Instalaram-se centrais de produção de energia eléctrica e construíram-se redes de distribuição domiciliária de electricidade.
Construíram-se novos edifícios escolares em toda a Ilha, e foi instalado o ensino secundário nos três concelhos. Acabou o vai e vem de alunos na travessia do Canal, todas as semanas.
Como não podia deixar de ser, aquela que foi a Caixa Económica Picoense, que ajudava os Picarotos, estabelecida do Concelho da Madalena e que funcionava com um só funcionário, expandiu a sua actividade pelos outros conselhos do Pico. Acabou por ser absorvida por uma Instituição Bancária de maior dimensão.
 No Tempo, a gente do Pico atravessava o Canal para contrair empréstimos no Banco de Portugal, onde, com muita frequência, o Gilberto levava as letras e o dinheiro para pagar as prestações. Era nas duas algibeiras de cima da “Froca” que transportava o dinheiro, fechadas com um alfinete de fralda.
Para apoiar todo aquele desenvolvimento, foram aparecendo na Ilha do Pico outras instituições bancárias. Hoje a ilha tem 8 instituições, que foram estabelecendo agências nas sedes dos Concelhos, havendo uma freguesia com dois balcões, a Piedade. Toda elas guarnecidas com funcionários, quase todos Picarotos e quando digo Picarotos, falo de gente honesta, simpática, com mostras dadas, que me aturam, conhecem todos os clientes e são deles conhecidos.
Não há notícia de ter havido, nesta Ilha qualquer tentativa de arrombamento ou assalto a qualquer instituição bancária, bem pelo contrário, temos notícias de assaltos a bancos, com pomposos nomes: desfalques, desvios, fraudes, comissões de gestão... mas, em outras paragens mais desenvolvidas e vindas do seu interior.
Vila de São Roque do Pico
Novembro de 2011
Email do Autor: Francisco Medeiros